terça-feira, novembro 27, 2007

Quando é que 'me' espreitas?
Ó vida !
....
- É que ando com a neura.
Tenho a modos que a... aorta amuada. -

sábado, novembro 24, 2007

Calçada da Ajuda 1998

Foi em fins de Outubro.
Vai quase para uma década.
Sim, vai para dez anos. Agora que penso nisso a sério. São dez anos.
Dez Outonos. Dez Primaveras. Uns quantos Verões. E sem dúvida alguma, dez Invernos.
Dez Invernos.
Lembro bem dos Invernos.
Eu gostava dos invernos nessa rua.
A calçada molhada.
A praça de rua.
O grito dos ciganos: Ó freguesa são só quinhentos marréis.
O resto de legumes no chão.
O frenesim matinal.
Os fins de tarde na tasca do senhor Chico.
Lembro bem dos tremoços.
Eram salgados.
Como a vida.
E a casa de ferragens do outro lado.
Deste lado era o terceiro andar.
A varanda era de ferro.
Ferro caído. Como o chão que tantas vezes pisamos.
Lembro bem do teu olhar.
Era claro. Grande.
As pestanas grossas.
É. Sem dúvida alguma que lembro bem desses Invernos.
No outro dia passei lá.
Nessa Rua.
A casa de ferragens já não existe.
Deve ter fechado com a tua morte.
Já passei lá tantas vezes e nunca olhava para esse lado da rua.
No outro dia parei.
Olhei.
E a casa de ferragens já não existe.
Lembro bem dela.
Do teu olhar atrás do balcão.
De me dizeres, solta o cabelo.
Tenho saudades tuas.
Vai para oito invernos que partiste.
Oito invernos.
Mas, os dois que sobraram ficam aqui.
Bem aqui.
Lembro bem dos Invernos.
Eu gostava dos invernos nessa rua.
A calçada molhada.
A praça de rua.
O nosso trampolim na paragem do eléctrico.
Os tremoços?
Os tremoços continuam salgados.
Como a vida!
O cabelo?
Nunca mais o prendi!


domingo, novembro 18, 2007

Carta Aberta

São muitas as pessoas que pensam e sentem que a tarefa do professor é fácil, e até mesmo superficial. Existe quem pense que basta ter uns bons apontamentos, abrir a sala de aula e falar sobre os ditos apontamentos.

Ser professor é muito mais que isso, antes de tudo é ser-se pessoa, e tudo o que isso implica. É ser-se educador e educando, é ser-se veículo de conhecimentos, é ser-se por vezes pai e mãe, psicólogo e sociólogo....
Implica gerir o seu tempo, o tempo dos discentes, estar em coerência com as transformações da sociedade, com as motivações do aluno, implica ser-se disciplina e transmitir essa mesma disciplina de uma forma coerente e saudável.
Ser professor é muito mais que uma profissão.
A disciplina de matemática exige flexibilidade e criatividade, implica olhar directamente para a motivação dos alunos, e saber contorná-la quando esta está ausente.
Por vezes equipara-se o pensamento matemático ao vazio, e a conceitos teóricos que ‘não servem para nada’.... enfim... á abstracção do próprio nada. Esta visão tem necessariamente que mudar.
A ‘arte’ de ensinar matemática está directamente ligada a este pensamento, e execução desta arte é cada vez mais difícil por isso mesmo... pela ausência total de motivação dos discentes, e por vezes... dos próprios docentes, pois quem corre por gosto não cansa... mas, fica cada vez mais frágil á negação inerente dos alunos.

Um dia Emile Lemarne sussurrou que “Uma verdade matemática não é simples nem complicada por sim mesma. È uma verdade.”..... Verdade esta que mais que pensada e compreendida, tem que ser sentida, para melhor transmitir-mos essa mesma verdade. Como diria Einstein no seu livro– Como vejo o mundo “ O ensino deve ser de modo a fazer sentir aos alunos que a quilo que se lhes ensina é uma dádiva e não uma amarga obrigação.”
O meu sentimento e pensamento é esse mesmo, conseguir transmitir que a matemática é uma dádiva, e não uma amarga obrigação.
E antes de toda essa 'matemática'... sentir o que realmente interessa: que todos somos humanos, que todos devemos um terno e eterno respeito, ao que nos rodeia.

E neste espírito, que se baseia o amor que tenho pelo ensino, tentar fazer o meu melhor. Pois sei e sinto verdadeiramente, que nós podemos mudar o rumo à realidade contemporânea enquanto seres humanos que somos.
Basta acreditar na inovação, nos professores, nos alunos e no ensino enquanto veículo de crescimento pessoal, intelectual e humano.


Hoje colocaram em causa o amor e o respeito que tenho por todos os meus alunos.
Porque é isso mesmo, amor!
Hoje chorei.
E hoje decidi assumir aqui , o que eu sou.
E o que eu sou, é isto: Sou uma pessoa.

domingo, novembro 11, 2007

Cholé



Corredor.
Nove e pouco da manhã.
Pergunto: Faz hoje um mês que te conheci, e nunca vi o teu sorriso.
Resposta: A vida não me dá tempo para isso.
Respondo: E dá-te tempo para quê?
Resposta: Para nada.
Respondo: Mata-te, não estás cá a fazer nada!
..
Nunca mais o vi.
...........

.........
No fundo a vida são como as meias.
Um todo por metade.
E calçam-nos o caminho!
Não há tempo para nada, dizem alguns!
O que se tem, há que ser por inteiro, digo eu!
Caso contrário, não vale a pena.
E há que sê-lo de todas as cores.
Maneiras.
E feitios.
Sorrisos?
Há sempre tempo para isso..
Rancor???
Nunca mais o vi.
O corredor tinha duas portas.
Aliás, tem uma janela.
E essa, aiiii essa vejo-a todos os dias.
Faz hoje um mês que te conheci, e ontem vi o teu último sorriso!

São agora cinco da manhã.
E sinceramente?
Não tenho saudades tuas.
É que, aqui só para nós....
Já calcei as minhas meias!
... e calcei-as por inteiro!

Ide em paz, e que o cholé te acompanhe!
Amén!

domingo, novembro 04, 2007

Tens Lume?

Estava escuro.
Ela pediu para acender a luz.
Ele não quis.
Ela insistiu.
E voltou a insistir.
Ele voltou a não querer.
Estava escuro.
Tocaram-se.
Cada toque, cada respiração.
Inspira. Expira.
Respiração.
Ofegante.
Daquelas que se ouvem uma vez.
E sentem tudo...nessa mesma vez.
Respiração.
Inspira. Expira.
A unha passou pelas costas dele.
Percorreu toda a espinha dorsal.
Toque.
Passou pelos ombros.
Toque.
Parou na coxa.
Toque.
Arrepiou a silhueta.
Toque.
Esticou o pescoço.
Toque.
Gemido.
Toque.
De novo o gemido.
Toque.
Inspirou tudo.
Toque.
Arrepio.
Estava escuro.
Na testa o suor.
No toque o desejo.
Inspira.
Expira.
E a unha continuava.
Aqui.
Ali.
Acolá.
De novo o arrepio.
Daqueles arrepios que se querem sempre.
Sim. Daqueles.
Sim. Exacto.
Desses mesmo!
Inspira.
Expira.
Foi num estacionamento.
Estava lua cheia.
Como hoje.
Era praia.
Era desejo.
E tu não acendeste a luz!
Sim !!
Foi num estacionamento.
Eu sei que não estava deserto.
Mas, tu podias muito bem ter acendido a porra da luz!


sexta-feira, novembro 02, 2007

Tradições - Cardápio de Dissabores


Todos os dias, a todas as horas deparamo-nos com situações estúpidas.
Incrivelmente estúpidas.
E mais que estúpidas. Más.
Pessoas más, portanto!
O mundo está cheio delas.
A nossa terra está cheia delas.
Pessoas que por uma razão ou por outra, sentem-se donas do mundo.
No sentido lato da palavra.
Donas da verdade. Donas do sentir. Donas do pensar.
Para essas pessoas só tenho uma coisa a dizer:
Ide para a puta que vos pariu.

Chegasse a uma certa idade que simplesmente já não há paciência.
E mais que paciência, já não há alma para essa gente.
A vida é curta demais.
As nossas energias têm que ser gastas, sim senhor!
Mas, gastas com quem merece.
A humildade é uma coisa muito bonita.
É pena que haja tanta falta dela.
Dela, e de sorrisos abertos!
Pessoas que por terem um canudo, meia dúzia de trocos, e uma cara laroca, pensam que podem simplesmente humilhar os outros.
Pessoas que por terem certas influências sociais e uma certa percentagem de retórica, que podem simplesmente não ouvir os restantes humanos.
Não há paciência, não há coração, não há tempo.
Não há tempo para isso.
A vida é curta demais.
Meus senhores, não tenho paciência.
Gosto de sorrisos abertos.
Sou uma tesa do pior.
A nivel cultural sou uma analfabeta.
Mas, sinceramente?
É que não tenho mesmo paciência nenhuma para determinado tipo de gente.
Puta que os pariu.
...
No meio disto tudo, o que tenho mesmo pena, é de sentir pena desta gente.
E logo eu... que não gosto nada de penas!