segunda-feira, agosto 04, 2008

#331




Ás vezes acho que é um vício, outras vezes acho que é um refúgio, e outras tantas sinto que é apenas o meu espelho.
A escrita envolve-nos, partilhamos aqui 'sentires', que de um modo falado a coisa saía diferente… diferente talvez não seja a palavra correcta.
O que se passa é que ando farta.
Não da escrita.
Não das letras, palavras, emoções…
Mas, ando farta.
Farta dos meus pensamentos.
Farta dos meus actos.
Farta dos meus sentimentos.
Ando cansada.
Consumida, verdadeiramente consumida.
As pessoas levam-me tudo.
Levam-me o coração, levam-me os pensamentos, levam-me os gestos.
Levam-me tudo.
E no fim.
No fim, não fica cá nada.
O mal não é das pessoas. O mal é meu, que com a idade que tenho já devia saber que não devemos esperar grande coisa… mas, eu esperei.. esperei.. e cansei-me.
Cansei-me de viver para os outros.
Cansei-me de achar que é normal não recordar a última vez em que os meus progenitores perguntaram se preciso de alguma coisa.
Cansei-me de achar que é normal não recordar quando levei um abraço paternal e maternal.
Casei-me da não aceitação.

....
Cansei-me de me esquecer de mim.
Cansei-me de achar que é normal a vergonha que algumas pessoas sentem por privarem comigo.
Ando cansada. Ando tão cansada.
Cansei-me de não me verem como sou.
Cansei-me de pedir ajuda a pessoas que dei tudo o que tinha, e simplesmente não terem tempo para ouvirem um simples desabafo.
Até ando cansada de confundirem o meu lado Pernas Para o AR , com o meu lado profissional.
Cansei-me das pessoas serem opacas, cansei-me de pessoas que têm trinta anos e não vêm um palmo à frente da vista, que só vêm o que lhes mostram.
As pessoas têm que ver muito além disso.
Ando desgastada.
Fatigada. Verdadeiramente consumida pela minha tristeza.

....
Ás vezes traçamos um caminho para determinada meta, quando finalmente conseguimos quase quase chegar a essa meta, vêm uma qualquer coisa, e tau muda isto tudo.
Mas, eu não reclamo, nem nunca perguntei porquê que tinha que ser a ela, e não a outra pessoa qualquer. As doenças surgem sem hora marcada, temos que as aceitar e lutar com optimismo. Aceitei e faço o que eu posso. Mas, ando cansada, muito cansada do meu tudo, ser sempre nada.
Ando esgotada de não conseguir respirar, preciso de um quadro e de um giz.
Ando cansada de me refugiar em álcool e cigarros.
Já nem as ondas me enchem a alma.
Nem os 666 metros da serra me alimentam.

....

Tenho um segredo, daqueles que vão para a cova connosco, e esse segredo anda a consumir-me, anda a trincar todas os meus possíveis sorrisos, e mesmo quando tal episódio se passou, eu nada fiz, porque tive medo de represália, daquela manisfestação típica da sociedade aponda o dedo, como se quem passasse por isso fosse desejo nosso, e não violentação dos nossos direitos e desejos enquanto seres humanos que somos.

...

Tenho saudades dos quase treze anos que passei no Bairro da Ajuda, da calçada, da loja de ferragens, das corridas sem capacete, de escrever com os salpicos do Tejo, de pegar em meia dúzia de quadros e vende-los a turistas no castelo de São Jorge.
Tenho saudades de ir para Santa Apolónia e pegar o primeiro comboio que aparecesse, só pelo simples prazer do desconhecido.
Tenho saudades daquela aceitação genuína. Verdadeiramente genuína.
O que sinto não é nostalgia, o que eu sinto é uma tristeza profunda.
Daquelas que agitam o corpo todo.
Daquelas em que vamos no carro e só apetece acelerar acelerar e sentir em todos os poros aquele “quero que se foda”.
Sinto aquela tristeza de agarrar no peito.
Sinto verdadeiramente hoje, que pouco ou nada ando a contribuir para a porra da sociedade.
Já senti muitas tristezas na puta da vida, mas como esta que ando a sentir……
Cansei-me de enterrar amigos, só este ano foram cinco e ainda só estamos em Agosto.
Ando cansada de tentar preencher o cérebro com demonstrações de Teoremas, com filosofias do século XVIII, literaturas contemporâneas.
Ando cansada de sentir que nada me enche.
Ando cansada de ouvir que sou uma vergonha.
Ando literalmente cansada de ser uma estranha pessoa.

Mas, o que ando mesmo cansada… é de eu sentir que sou realmente uma vergonha.

Ando com vergonha de me despir.
....

E enquanto eu andar assim o Pernas fecha. E com ele todos os projectos que tinha agendado, nomeadamente o próximo livro.

....

Para escrever é preciso raiva.
É preciso sentir o sangue, a medula, os dedos, os outros, é preciso aquele tal equilibrio desiquilibrado dos sentidos.
Aquele calar de cérebro, aquele falar de miocárdio.
É preciso sentir que desembrulho-me toda, que fico completamente nua em palavras.
Sim.
É preciso isso.
Sentir todas as rugas, as minhas e a dos outros, cada fio de cabelo, cada gesto, cada bocejar, cada olhar, cada nó dos meus ossos, meus e dos outros.
Sentir cada lambidela de pele, cada raciocínio, cada bochecha vermelha, cada ombro descaído, cada soslaio, cada tudo.
Para que esse tudo, se transforme em cada uma das minhas 'nudezes'.
Mas, já não me sinto capaz de despir.
Já não me sinto capaz de ser eu.
Ando com muito frio.
....
Um grande abraço para todos aqueles que sentiram nas entranhas as minhas linhas.
Foi de um enorme prazer privar convosco as minhas veias.
As minhas pulsações.
Para vocês o meu muito obrigado.

sábado, agosto 02, 2008

Desejo[s]

Há jogos perigosos.
Inquietantes.
Com sulcos.
Ando consumida.
Isto de muito rabiscar…

P.S.: Definitivamente temos que nos provar. Apeteces-me.

sexta-feira, agosto 01, 2008

Sim, eu sou estranha. E depois?


- A Filipa hoje não está muito normal.
- E quando é que ela está normal?
- Quando é Vanda.

Foi nas tascas, na mesa do lado.
Se eu tivesse respondido… responderia qualquer coisa da medula.
Mas, estou sem espinhas.


Boa noite.
Chamo-me Vanda Filipa.
Sou docente.
E nas horas vagas, procuro a indecência dos pensamentos, actos e omissões.
.
.
.

Estranha pessoa esta.