Neste dia ele saiu mais cedo.
Era Inverno, daqueles Invernos secos e húmidos, suaves e gelados...
Daqueles frios que arregaçam as veias até ao tutano,
ao ponto da 'medula do ser' ficar completamente tripartida em manhãs, tardes e noites.
Corria calçada abaixo, não porque estivesse atrasado mas,
porque tinha medo que o 'Medo' aparecesse.
Ele costumava aparecer assim naquelas tardes frias.
Ainda ecoava naquelas paredes aquele último bater de asas que se queria arrojado,
coabitava naquela rua um grito nunca dado.
E ele corria
corria corria
Hoje ele queria escrever tudo.
Dantes só escrevia o que podia.
Hoje queria escrever tudo o que podia e queria!
E corria antes que o tal bater de asas se ausentasse.
E pegou no pequeno lápis, o tal que estava sempre no alpendre da mercearia.
E sem estremecer, escreveu.
Escreveu:
"Se num qualquer anoitecer me vires de chapéu de chuva, e não estiver a chover..
É porque me esqueci de mim e estou a lembrar-me de ti."
E tirou o único atacador que tinha.
Pegou no pequeno papel e no pombo de nome Medo, atou no tornozelo do 'Medo' o manuscrito.
Atou.
E soltou.
Não chovia.
E ele tinha o chapéu de chuva.
Viste?
"Que importa se viste,
devolveste o que tinha escrito."
Escreveu ele no degrau do prédio de porta entreaberta.
7 comentários:
e na volta encontra-lo nas palavras escritas no degrau do prédio da porta entreaberta.
na volta onde tudo (re)nasce e se transforma...
Olá!
Bom trabalho.
Obrigado
Chovam palavras....como as tuas...sublimes!
Um beijooo
Não ter medo de ter medo!
bjinhos
Yap... É preciso coragem.
Fica bem,
Miguel
Esquecer que o medo existe...não recear ter medo...Não sentir medo...É díficil...
Beijocas
Gostei da ansiedade pela escrita do personagem :)
*****:)
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