segunda-feira, novembro 04, 2013


Escada de tábuas.
Não. Era granito. O corrimão, sim. Era de madeira.
Colaterais. Glaciais. Austeros. Degrau. Um. Degrau. Três. Degrau. Cinco.
E enquanto subia. Nos ímpares. Que eram os dias. Mirava pelo ombro.
Não pela quina da retina. Por cima. Do. Ombro. De alça fina. Comedida. Centrada.
E é assim que se governa uma alma. Focada nos dias pares. Distraída nos dias ímpares. Porque são assim as distracções. Reles. De tão boas que são.
A escada toma forma. A nossa. A tua. A minha. Alma. Densa. Sem corrimão. De braços abertos. Espreguiçados. Escada acima.
E entre andares. Dança.
Despe-te se for preciso. Vá. Dança, porra!
É dever dos arquitectos fazerem alpendres para dançares. Dança. Dança contigo. Espreguiça-te à vontade. Para lá das assimptotas.
Arrebenta com cada osso. Vá. Foda-se. Arrebenta com todos os ossos.
Deixa ficar só a Alma. No alpendre a dançar. Sem música. Sem nada. A. Nu.
Eu disse a nu.
Despe-te. A dança é tua. Que se foda se estão a ver.
Corre. Corre. Corre. Atrás de ti mesmo.
Deixa a roupa. Ficou lá atrás. Continua a correr. Sente cada osso.
Ainda sentes os ossos? Eu disse-te para rebentares com todos.
Continua a correr. Sente a sola do pé. É pó. É alcatrão. É calçada.
Pára. Pára agora!
E dança outra vez. Que importa se é ré sustenido ou si bemol. Não há música.
És só tu.
E o alpendre.
E é tão bom não é?

E é assim que se governa uma alma. Focada nos dias pares. Distraída nos dias ímpares. Porque são assim as distracções. Reles.
De tão boas que são.