segunda-feira, junho 27, 2011

Há velas que não passam de meros co[u]tos.

E quando o morto está vivo.
E o vivo está morto.
O funeral foi assim. O vivo estava morto.
E ninguém chorou. E veio a banda filarmónica.
E a terra. E o pico. E há quem chame de bico.
Ah a vela. A vela.
Foram sustenidos e bemóis. E o mestre de batuta.
E aquela pedra, do quarto poste a contar da esquerda.
Debaixo da pedra.
Que cá coisas de direita sempre dentro mau resultado.
A escrita sai muito perfeita, e coisas perfeitas parem coisas tortas.
E de tortas já temos os nós.
Que se fazem nos pulsos. Em formas de pulseiras.
Disse ele que era o botão das calças. Verde da cor do mato.
Serrano, trigo, vento, amarelo… de tão seco.
Que pariu ventos do sul. Mente.
Mente sua besta. Mente.
Há-de alguém ouvir as tuas lamúrias. Os teus excrementos.
E as penhas que não choram, gritam, refugiam-se.
Da bandeira de cor de sangue. Coloca gelo e pudor.
Sempre foste bom nisso. Lembraste? No pudor?
Já eu. Gosto das salinas, a escorrerem sal por todos os lados. Cantos.
Tectos. Chão. E naqueles filamentos que ninguém nota.
Estou eu lá, a gritar de prazer.
Ah milho. São como pipocas a saltitar.
Sabes lá tu o que isso é. Que de coisas cruas nunca quiseste saber.
E de nuas nem vê-las.
Miopias da tua pele.
Não sou oftalmologista. E o único Tenente que conheço é o meu, este meu.
Meu miocárdio de terra batida sem asfalto.
Que de alcatrão está a assembleia feita, e eu não funciono de votos.
E aquelas reuniões tardias. De mães loiras, de netos desvanecidos.
Ah funeral de trinta e quantos graus.
Prazer orgástico, obrigada. Pele minha.
E tu, lá em cima na bandeira que, não é tua.
No canto que nunca foi teu.
Com uma barba muçulmana. Calça-te.
Que o meu chão. Nunca foram os teus passos.
Adeus.

Gostaste do teu funeral?
Foi bom. Não foi? Não, que não foi!

quinta-feira, junho 23, 2011

Há pessoas parvas. E depois há o meu senhorio.

As escadas eram de madeira, cheiravam a mofo e a vizinha de baixo era prostituta. Nada de anormal, não fosse a jovem do quarto ao lado do meu ser viciada naquelas batatas fritas, cujo nome não me recordo. Aqueles de pacote cilíndrico. E guardava todos os pacotes em cima do guarda fato, e o guarda fato tinha as mais recentes criações da Fátima Lopes. Nada de anormal, não fosse a sua preferência para vestir bem, do que para comer bem, que isto dos euros não chega para tudo, não senhora.

Numa outra casa, também no bairro da Ajuda, o anterior inquilino e dono da casa, tinha ganho o Euromilhões. Fez uma casa na quinta da Marinha e alugou aquele apartamento à frente do Pingo Doce só porque precisava de pagar o motorista. Muito bem, dantes nem carro tinha, agora o senhor precisa de motorista. São os euros meus amigos, são os euros.
Nessa casa, no quarto em frente ao meu, dormia uma moça que não sabia cozinhar, mas coincidência das coincidências também era viciada em batatas fritas, mas mesmo batatas. E a moça quando lá se lembrava do vício, tal era o maneio da coisa que toda a cozinha ficava suada de óleo, em todos os cantos, no tecto, nas paredes era óleo que dava para encher o depósito da limusina do nosso senhorio.

Houve outra vez, numa outra casa que era um sótão dividido em dois, a senhora do sótão ao lado coleccionava bonecos de porcelana. Tinha uma figura parecida com aquela bruxa da branca de neve, sinceramente a mulher fazia-me confusão. O tal sótão já era pequeno, mas dividido em dois era mais que pequeno, era minúsculo. Quando ia lá alguém jantar, era em pé. Era mais chique. Buffet, portanto. Tudo normal, não fosse um dia a tal senhora ter enchido por completo a parte dela com bonecos, e um belo dia chego ao meu estamine e tenho a cozinha cheia daquelas miniaturas de porcelana. Era dentro das panelas, em cima da frigideira, até dentro do aquário. O xico, o peixe mais velho, bateu com os cornos num dos bonecos e andava a boiar no grande oceano.

Também em Lisboa, ali para os lados do palácio do Senhor Presidente, a casa era fantástica, um último andar com vista para a Igreja da Memória, tinha casa de banho privativa, quando chovia muito a malta tinha que mudar o rumo da cama, para não gramar com um chuveiro matinal antes do previsto.

Ou na ilha, em que o senhorio pensava que a juventude de trinta anos não precisa de um duche quentinho no Inverno húmido Açoreano. Esquentadores para quê? Os euros são caros, e a malta pode muito bem pegar em panelas e aquecer as suas doses de duche diário.

Tudo normal. Tudo muito normal. No outro dia contei oito, mas depois lembrei-me de mais duas. São ao todo dez. Dez casas por onde já passei. E outros tantos senhorios.

Contemporaneamente a grande moda de sacar uns dinheiros à geração dita à rasca é o aluguer de quartos. E não falo de aluguer de quartos de estudantes. Falo da maltinha de trinta, ou como eu gosto de chamar - Da maltinha verde. Verde de recibos, portanto. A modos que os senhorios viram em nós, malta que tem trinta anos, sem família, e com trabalhos de curta duração um bom negócio de chulice.
Não passam recibos, são bestas quadradas, e falam para nós por cima dos óculos. Naqueles preparos de ‘vê lá se amochas que aqui a precária és tu’.

Em frente aos meus aposentos dorme um Espanhol, e no outro quarto uma moça que só ouvi falar uma vez. Adiante.
O Espanhol vende tectos falsos. Numa destas madrugadas era um ver que te avias de barulho, pensava eu que o bacano estava a experimentar os ditos tectos falsos na sala. Sim, eu sei que é uma coisa parva de se pensar, mas foi o que eu pensei. O gajo tem a mania das dietas, e com a falta de açúcar, o cérebro podia ter-lhe dado para aí.

De manhã não havia sala. Haver até havia. Mas ao contrário. O senhorio que é uma pessoa tão simpática e bem formada, achou que a sala era demasiadamente grande para nós os três. Vai daí entrou à ‘má fila’ em casa e… dividiu a sala em dois. Sendo que numa das partes, não cabe mais que uma cama. E não é que a cama também já lá estava? Porreiro pah, uma pessoa acorda de manhã e tem mais um quarto em casa. Divido da sala com um armário. E isto tudo numa madrugada.

E ainda dizem que neste país tudo funciona a reboque. ‘tá bem tá.

Há pessoas parvas. E depois… bem depois… existem os senhorios.

P.S.: Maltinha dos trinta barra verde se me estão a ler, fé na vida companheiros.