quarta-feira, novembro 27, 2013

Contigo aprendi a confiar menos.
Nos outros.
Mas foi também contigo que aprendi. A confiar.
Tudo. Em. Mim.

A amar-me. Portanto!

É. Foi bom. Viveste.
Vives|te-me.
Mas ainda bem que já morreste-me.

quinta-feira, novembro 21, 2013


Às vezes a aorta entra em decadência intelectual.
Oh Maravilha.
De juízos de valores estandardizados
As sensações não se regem de faces pálidas.
De peixes amórficos. De botelhas entulhadas numa qualquer varanda.
As sensações, essas são como os gargalos.
De beiços em bico. Sedentos. De gargantas.
Que vos chamem de vadios. Que se fodam.

 

sexta-feira, novembro 08, 2013


Margarida Rebelo Pinto,

Houve uma vez, aqui há uns anos, alguém vira-se para mim, e diz que sou uma ignorante porque nunca ter lido um livro seu. Afirmou ainda, que mulher para ser mulher, tinha que ler os seus livros.
Note-se porém, que a trato por você, não como sinal de respeito, mas de distância. Porque de si e de mulheres como a senhora, quero é distância.
Nunca li um livro seu. E veja lá você bem, que sou uma mulher inteira. Não é fantástico?
Mas sabe o que é ainda mais fantástico? O seu humor.
Gosto tanto. Então quando a senhora chamou a todos nós portugueses de… treinadores de bancada. Ri-me a valer.
É. Realmente a senhora é uma humorista nata.
Já pensou em ir brincar aos pobrezinhos para a Comporta? Pense lá nisso. E se possível vá a banhos. E já agora à pesca.
É que mulheres como a senhora, não devem saber nadar e muito menos pescar.
Pessoas como a senhora, gostam de comprar o peixe no supermercado. Nem se dão ao trabalho de ir ao mercado e muito menos sabem o que é uma lota. Pessoas como a senhora, não sabem o que é pescar. E ainda têm a lata de dizer e mais, o atrevimento de vir ensinar a pescar.
Tenha juízo. Pegue em si, vá ao Ikea, compre um banco. Pegue nele e vá até às Berlengas ser treinadora de gaivotas.
Tivesse eu idade para ser sua mãe, e dava-lhe uma valente bofetada nessa cara.
E desculpe senão entendeu a metáfora da pesca, é que tal como a senhora diz... nós portugueses devemos muito à inteligência.

Cumprimentos,
A mulher que nunca leu Margarida Rebelo Pinto

segunda-feira, novembro 04, 2013


Escada de tábuas.
Não. Era granito. O corrimão, sim. Era de madeira.
Colaterais. Glaciais. Austeros. Degrau. Um. Degrau. Três. Degrau. Cinco.
E enquanto subia. Nos ímpares. Que eram os dias. Mirava pelo ombro.
Não pela quina da retina. Por cima. Do. Ombro. De alça fina. Comedida. Centrada.
E é assim que se governa uma alma. Focada nos dias pares. Distraída nos dias ímpares. Porque são assim as distracções. Reles. De tão boas que são.
A escada toma forma. A nossa. A tua. A minha. Alma. Densa. Sem corrimão. De braços abertos. Espreguiçados. Escada acima.
E entre andares. Dança.
Despe-te se for preciso. Vá. Dança, porra!
É dever dos arquitectos fazerem alpendres para dançares. Dança. Dança contigo. Espreguiça-te à vontade. Para lá das assimptotas.
Arrebenta com cada osso. Vá. Foda-se. Arrebenta com todos os ossos.
Deixa ficar só a Alma. No alpendre a dançar. Sem música. Sem nada. A. Nu.
Eu disse a nu.
Despe-te. A dança é tua. Que se foda se estão a ver.
Corre. Corre. Corre. Atrás de ti mesmo.
Deixa a roupa. Ficou lá atrás. Continua a correr. Sente cada osso.
Ainda sentes os ossos? Eu disse-te para rebentares com todos.
Continua a correr. Sente a sola do pé. É pó. É alcatrão. É calçada.
Pára. Pára agora!
E dança outra vez. Que importa se é ré sustenido ou si bemol. Não há música.
És só tu.
E o alpendre.
E é tão bom não é?

E é assim que se governa uma alma. Focada nos dias pares. Distraída nos dias ímpares. Porque são assim as distracções. Reles.
De tão boas que são.