terça-feira, novembro 18, 2008

Talentos


Já passaram várias pessoas pela minha vida.
Pessoas magras, gordas, cegas, carecas, com tiques, sem tiques, analfabetas, doutoradas, ricas, pobres, mendigas, com tecto, sem tecto.
Pessoas que sabem ouvir, outras que sabem falar.
Pessoas que sabem estar, outras que nunca estavam.
Pessoas simpáticas, quentes, frias, ásperas.
Pessoas que deixaram marcas, e outras que ficaram por deixar.
Pessoas com olhar castanho, azul, negro, forte, fraco, intenso.
Pessoas com andar cabisbaixo, decisivo, categórico.
Pessoas tímidas, introvertidas, concentradas, exuberantes.
Pessoas.
Simplesmente, pessoas.
Não me interessa o pai, a mãe, a irmã, o tio, o primo.
São pessoas.
Não me interessa durante quanto tempo privaram comigo, se foi muito, se foi pouco.
Interessa-me sim, que foi o tempo suficiente para ficar um bocadinho delas dentro de mim.
Porque nós somos isso mesmo.
O que vivemos, aprendemos, sentimos, pensamos, cheiramos, vemos, andamos.
E fazemos tudo isso com partilhas.
Com pessoas.
Mas, pessoas Pessoas.
Pessoas com letra grande.
Pessoas que sabem que o corpo é uma mera carcaça, pessoas que sabem o quão é importante o invisível.
Pessoas que sentem, que ninguém escolhe esta ou a outra família, este ou o outro esqueleto, pessoas que definem em si a prioridade da amizade, da veracidade.
Pessoas que olham directamente nos olhos, que não estão para ironias, expectativas, hipocrisias.
Pessoas.
Ás vezes coabitamos com determinadas pessoas, que nunca chegamos verdadeiramente a conhecer.
E nós, que também somos a modos que totós, também nunca nos damos muito a conhecer.
Eu tenho para mim que existem por aí pessoas verdadeiramente fascinantes, capazes de ferver em nós o que de melhor temos.
Capazes de renascer em nós,
…os nossos melhores talentos.
Pessoas artistas, portanto!
Já passaram várias pessoas pela minha vida.
Muitas, até.
E guardo saudades de cada uma delas, com um enorme sorriso.

Um destes dia, tocaram-me nas costas e perguntaram:
- Quando é que sabemos que gostamos de uma pessoa?
Ao que eu respondi:
- Quando sentimos saudades.

É.
Às vezes é bom sentir saudades.
Porque é aí,
exactamente aí,
Que sabemos, quando gostamos realmente de certas pessoas.
Mas, pessoas Pessoas.
Daquelas verdadeiramente… Artistas!
Capazes de renascer em nós,
…os nossos melhores talentos.

quarta-feira, novembro 12, 2008

Iogurte[s]


Não cos[tumo] pensar a longo prazo.
Sabem aquelas conversas de adolescentes, quando diziam umas ás outras, o meu vestido de noite vai ser de tal cor, eu quero ser médica, ter três filhos, o do meio vai chamar-se Felizberto.
Mas, já nessa altura não era hábito pensar a longo prazo.
Não sei, os planos sempre me fizeram confusão.
Não por serem planos, mas antes por serem plural.
Não que o singular seja melhor.
Não, não é nada disso.
A questão é que sempre achei que não ia chegar a determinada idade.
Aquela idade em que basicamente os planos começam a ter uma qualquer materialização.
Hoje quando olho para esses tempos.
E para os planos que nunca cheguei a linear.
Penso um sentir estranho.
Aquele sentir de quando percorremos uma estrada sem mapas.
GPS’s.
Sinais.
Quando pegamos no carro sem destino.
Quando telefonamos para alguém, e vai parar à caixa de voice mail.
É um sentir esquisito.
De emissor sem receptor.
Hoje quando penso nesse sentir.
Pego naquele cordel que um dia fiz no recreio da terceira classe.
Em que atei numa ponta da guita, um iogurte.
E a outra ponta ficou por atar.
É.
Não costumo pensar a longo prazo.
Mas, hoje quando me sinto longe de mim.
Penso em certos nós que ficaram por atar, por ter medo de pensar, não a longo prazo.
Mas, por contextualizar uma verdade.
Que afinal, era só minha.


É.
Há sentires lixados. Isto para não dizer, fodidos!

segunda-feira, novembro 10, 2008

Metaforicamente falando...


Um dia destes passo-me da marmita.

É que a bem da verdade,

nem toda a gente é obrigada a ter um micro-ondas.

segunda-feira, novembro 03, 2008

Qual dos panoramas preferem?

Imaginem o seguinte cenário.
Mas, imaginem com força, com convicção.
Não fiquem presos ás minhas palavras.
Pois, são apenas isso.
Palavras.
….
Imaginem com voz.
Mas, sem som.
Ou então, não!
Esperem.
E S P E R E M.

[Detesto este tom]

….
Sim. È isso.
Imaginem ao contrário.
Em vez de uma voz, sem som.
Imaginem antes, um som, mas sem voz.

Ainda não conseguiram?
Ok.
Eu espero.
..
Sim. Isso.
Isso mesmo.
Aí.
Entre o Am e o Fm.
Não mexam mais.
Ok.
Agora, que têm esse som, sem voz.
Imaginem o ruído.
Esperem.
Não é esse!
Engendrem uma maneira qualquer mas, imaginem o ruído que vos faz sorrir.

Já está?
Agora imaginem, o outro.
O que voz faz chorar.
..
E isso tudo com som.
Muito som.
Mas, não se esqueçam: sem voz.
Não imita nenhuma voz.
Nenhum sopro. Suspiro. Gemido.
Nada.
Como aqueles sonhos em que a almofada anda ás voltas.
De um lado para o outro, e ouve-se o nosso corpo a remoer entre o cá o lá.
E o som que faz sorrir, já nos fez chorar.
E o chorar, rir.
E toma forma.
Feição.
Leve feitio.
E tudo sem voz.
Alguém um dia bateu à porta.
E o som era tanto, que não tínhamos voz para responder.
E o toque foi abrandando.
Fugindo.
Ausentando-se.
Xiu.
..
E calaram-se.
..


Agora. Leiam de trás para a frente.
..