sexta-feira, novembro 18, 2011

i|marginal

Quando uma estrada vai pela pelo mar adentro. Dizem que é marginal.
É paralela. Como o coração e a razão.
Não se tocam. Dizem eles.
Erram. Digo eu.
Um organismo é um organismo.
Pele. Franja. Braço. Dedo. Mão.
Joelho. E é às vezes no joelho, que o coração toma a razão.
Toma atenção.
Do tremer.
Ou de tremer. Como preferirem.
Às vezes o ser humano não tem a sapiência de saber que as articulações do joelho titubeiam no cruzamento.
Naquele. Naquele mesmo cruzamento onde a marginal cruza o mar.
Onde o alcatrão toma cada grão de areia como dele.
Ou o contrário, também é válido.
O que não é saudável, para a alma, quem a tenha. É o recíproco.
A areia tomar o alcatrão. Aí, não é o joelho que treme.
É o calcanhar. O queixo. O lábio inferior.
Porque o superior é mais rijo.
Como o cérebro que se diz adulto.
Que de tão adulto que parece, treme.
Como uma criança. Nervosa. Nos primeiros dias de escola.
Á chuva. Aquele tilintar no trigo à beira. Do nada.
Naquela recta, de luar à orla mar.
Naquela delinquente alma que toca o pavimento.
Porque os dias não podem ser iguais.
Porque as noites engolem toda e qualquer saliva.
Daquela que vai pelo queixo abaixo. Rugosa. Impetuosa.
Até o alcatrão dar cabo daquilo tudo. Do princípio ao fim.
Mas ao contrário é que tem mesmo graça.
Do fim até ao princípio. Aquele princípio tão nosso.
Tão nu. Tão íntimo. Que faz chorar.
Aquele choro, grosso. Salgado. Que ao passar deixa crateras.
Fundas. Ao erijo epiderme.
Com cada membro.
Membrana, se quiserem. Mas se não quiserem, não faz mal.
Que me importa a mim.
Nada.
Que a pele é minha. A marginal é esta.
É paralela se eu quiser. E eu não quero.
A perpendicularidade tem muito mais charme.
Treme? Ainda bem.
É sinal que vivem. Que sabem distinguir coisa nenhuma.
Quem é que disse?
Eu não fui.
Que passei no código sem saber as regras de trânsito.
Prefiro o roçar da areia, a mazelas ‘alcatronais’.
Deixem-me. E agarrem-me.
Por mim. Nunca para mim.
Que de ‘cirenaísmos’ nunca se fizeram erotismos.
Evaporem-se, como cargas de pilhas. Húmidas do inverno.
Está rigoroso.
Mantas de retalhos. Laranjas. Da cor do mato.
Não chove. Não dorme. Não troveja.
Morreu.
Sorrio. Porque há óbitos assim.
Bons. Mesmo bons. Que de tão libertadores, ganem.
Até partir. Maldito caixão.
Foi na procissão, de barco.
É época de regozijo. Na ‘i|marginal’. Os semáforos abertos.
As linhas descontínuas.
O porta-bagagem vazio. De passados.
É presente.
O mau que se foda.
Sim que se foda.
Podia dizer que se lixe. Mas não me apetece.
É mesmo que se foda.
Fode-te e morre.
Porque é ao renascer que se chora. Que se gane.
Que tudo o que é lúcido toma aquela leve nitidez do que é anormal.
E o que é anormal é tão bom. Quase orgástico.
Já venho.