terça-feira, janeiro 30, 2007

Esqueci-me


Peguei numa folha.
Folha.
Folha branco.
Em branco.
Alcancei um lápis.
Precisava desenhar.
Desenhar.
Desenhar um qualquer risco.
Não era de Madrugada.
Esse desenhar.
Não consegui.
Tinha folha.
Tinha lápis.
Tinha até o traço.
Tinha o afia.
Mas,
Esqueci-me.
Esqueci-me de como se afia.
De como se afia.
Um
Segredo.
Era de Madrugada?
Não.


Era adversário!
E gritou-me:
Sai da Humanidade!

segunda-feira, janeiro 29, 2007

Discurso Directo


Não queria ser mal educada com ela.
Nem sequer lhe faltar ao respeito.
E muito menos ser traiçoeira.
Por isso, e num gesto sem nenhuma subtileza,
Lhe disse:
Olha Vida, se queres Gestos, não me oprimas.
Se queres Palavras, não me ajustes.
Se queres Sentires, não me ameaces.
Se queres Olhares, não me cegues.
Se não queres nada disto, não me chames.
E se um dia mudares de ideias e quiseres isto tudo.
Não lamentes.
Porque eu estava oprimida, ajustada, ameaçada e cega!
Restou-me o olfacto para prever a tua chegada.
E passos para fugir da tua partida.
Olha Vida, se um dia lembrares de mim.
Lembra-te que um lembrar é Mente.
E se é de Mente que se trata.
Então, não queiras lembrar de mim.
Não estou em nenhuma Mente!
Estou ali.
Ali mais para aqueles lados de lá.
A fugir.

sexta-feira, janeiro 26, 2007

Veias desgovernadas

São suores.
Suores de frio.
Arrepio.
Daqueles que se desencontram entre a pele e a retina.
O resto é temperatura.
É uma espécie de esquisito.
De ossos mal amanhados.
De veias desgovernadas.
Ando intoxicada.




Sem risco!

quinta-feira, janeiro 25, 2007

Diagonal


- Qual é a melhor direcção para a certeza?
- A direcção não sei.
- Então, o que sabes?
- Sei o caminho.
- Não é a mesma coisa?
- Talvez até seja.
- Então porque respondes assim.
- Porque do saber ao sentir, vai todo um caminho.
- E.....?
- E esse caminho eu sei... Agora a direcção.. A direcção, não sei!
- E o caminho?
Qual é?
- Sei que não é diagonal!
- Como assim?
- Se fosse horizontal, ou vertical seria banal...
- Quer dizer então, que um desses será.
- Será! Mas, seria semi-recta.
E com toda a certeza, a incerteza estará num vértice.
Aquele.
Aquele que une o deambular com o ......
Com o ... qualquer coisa.
Desde que não seja segmento.
- Não entendo.
- Ainda bem. Se entendesses seria banal. E isso seria certeza.

quarta-feira, janeiro 24, 2007

O tempo não é de desenrasque

Conheces aquela história dos nativos?
Sim, aquela em que se fala de um coração nativo.
Conheces?
Não importa se conheces.
Importa se queres conhecer.
Queres?
Não me importa o resto.
Queres conhecer ou não?
Responde.
Queres?
Ora, porquê agora...
Porque o tempo não é de desenrasque.
Os ponteiros já não estão alheios.
Não são exigências de tic tac.
Estou apenas a exigir de mim o meu mim.
E a pedir-te a ti, um soletrar.
Nem que seja em silêncio.
Tic tac tic tac
Tic
Tac
Tac
Qualquer lógica que consigas nesse tic tac
Esquece-a!
Não é de lógica que se trata esta história.
Não esqueceste?
Estás alheio.
E isso pesa.
Pesa.
Pesa neste tic tac
Tic
Tac
Tac
Soletras?

segunda-feira, janeiro 22, 2007

Pólos II

E ele gritou que era um qualquer desencaminhamento.
Confusão de um querer.
Intoxicadamente selvagem.
E ela veio com a conversa da Loucura.

Não venham com a conversa do imcompatível.
Dos pólos.
Do Norte e do Sul.
Ora, se há dias de Sol e Chuva, e que faz o Arco-Íris.
Porque não existir a Timidez e a Ousadia, a fazerem a Loucura?

sábado, janeiro 20, 2007

Trovoada

Não é complicação, nem tão pouco confusão.
É fidelidade.
É não querer desabitar de mim.
Não me aceito, é certo!
Mas, recuso-me a ceder a tal desabitação.
E isto não é errado.
Mas, também não é para fazer sentido.
É conflito.
É talvez e sim descoberta.
Como que uma embriaguez de absurdo.
Com ressaca de desassossego.
E não me venham com a lucidez.
Não a conheço, nem faço questão de a conhecer.
Não.
Não já disse, não quero essa apresentação.
Com toda a certeza não lhe irei estender a mão.
Seriam demasiados limites.
E o que eu quero são disparates.
Disparates de emoção.
Emoção!
Sem vocabulários.
Sensações.
Desconcertantes.
Sem constantes.
Sobressaltos.
De enfrentar!
Ousadia.
Da distracção.
Genialidade de qualquer coisa.
Curiosidade do acaso.
Acaso!
Delícia do improviso.
Improviso!
Poeira de trovoada.
Trovoada incerta.
Estava distraída.
Atenta!
Ops
Impulso.
Isto não é estranho.
É apenas o meu modo.
O meu modo.
O meu modo de.
De Ser.
Ser.
SER!

sexta-feira, janeiro 19, 2007

Queda Livre

Tendem a falar de gravidade como uma faca.
Tendem.
Ah pois tendem...
São tendências!
E perguntam o quanto a faca é afiada.
E eu respondo:
Quem a amolou?
E ficam de testa franzida.
Tendências...
A lâmina somos nós que fazemos.
Que importa se os outros a acham de gravidade.
Ou aguçada.
Ou até nada cortante.
Que importa isso, se ela não cortar o que eu quero?
Se ela não for a minha medida.
O meu punho!
A minha forma.
Então qual é a gravidade do ferimento?
Olha não sei,
O que eu sei é que a minha faca
É gravidade sim.
Mas, é outra
É daquela atracção gravitacional entre a Terra ou outro qualquer corpo celeste.
É aguçada ao ponto de ser responsável (na Terra) pelo peso de um objecto próximo da superfície ou pela sua aceleração em queda livre.
Queda Livre!
E perguntam outra vez:
A faca está afiada?
E eu respondo:
Salta em queda livre e logo vês!


quarta-feira, janeiro 17, 2007

Desengonçada


Não me asfixies
E eu sei que não
E é esse saber que me asfixia
Não o teu saber
Mas, o meu surpreender
De não saber
O porquê
Desta não asfixia
Não penses que é recíproco
Ou até sensatez
Pensa antes que é loucura
Este meu conhecer
Isto não é um embarco
Apesar deste descalço
É qualquer coisa de perigo
Para além do movimento
E este modo desengonçado
É algo inerente
Assim como o orvalho
Numa noite de desalento
Como que um desabitar
Da confusão
Para quê tantas tradições
Se o que eu quero são ilusões
E não importa o labirinto
Repara no momento
Que importa se demora
Prevalece o pensamento
Vê lá se percebes
Que nada há para entender
O que existe tem sentido
Mesmo que esteja por decidir
Talvez seja subúrbio
Esta minha insensatez
Talvez nada seja
Nada mais que uma qualquer invalidez
Que importa o que seja
Nem que seja confusão
Quero lá saber o que seja
Desde que seja
Um qualquer desatar
Não penses que é loucura
Este meu conhecer
Pensa antes que é um apagar
De uma qualquer sensatez

segunda-feira, janeiro 15, 2007

Revelo


Dizem por aí que todos nós usamos máscaras.
Umas mais acentuadas.
Outras menos.
Mas, dizem que todos as temos.
Permitem-me discordar.
Não vou dizer que ninguém as tem.
Isso seria ingenuidade e hipocresia.
Claro que existe quem as tenha.
O que as pessoas confundem... é o escondido com as máscaras.
As máscaras escondem algo.
Uma face. Um gesto. Um episódio. Uma realidade. Um bocejo.
O escondido é diferente.
Eu posso ter um qualquer pó escondido num qualquer canto da sala.
Está no canto. Mas, não atrás de algo.
Apenas está no canto.
E por estar no canto, está escondido.
Ou está escondido por estar no canto.
Por vezes dizem-nos:
- Mostra-te como és!
E esquecem que nós estamos a ser o que somos.
Apenas não estamos a revelar tudo em gestos ou palavras, porque estamos no canto.
E insistem que o revelar está nos gestos e palavras.
E esquecem que as pessoas podem dissimular esses mesmos gestos e palavras.
Agora nos olhos!
Nos olhos não.
Não!
E revela-se isso tudo nos olhos.
Não é num olhar.
Atenção, é nos olhos.
Porque essas tais máscaras que falam pode até ser um olhar.
Há quem consiga fazer isso. Usa-las até num olhar.
Eu cá não consigo.
Assumo, se pudesse era usar sempre óculos escuros.
Porque os olhos dizem tudo.
E por isso andam encolhidos.
Com medo de um qualquer olhar que os dispa num clicar.
Com medo de um qualquer bocejo que desprenda aquele lacrimejar há tanto por sair.
Simplesmente encolhidos.
Simplesmente encolhida porque .......
Eu respondia.. mas, estou ali no canto.
Revelo que menti ao escrever que se pudesse usaria sempre óculos escuros.
Já não quero!
Ando com os olhos desnudos.
Encolhidos é certo.
Mas, desnudos.
DESNUDOS.
Pudesse a palma da minha mão revelar essa nudez!

quarta-feira, janeiro 10, 2007

Sombras

De Inverno era por volta das dezassete horas e quinze minutos,
de Verão era um pouco mais tarde, e nunca com os quinze minutos.
Apertava os ténis rotos, um deles já sem atacadores.
E saia.
Descia as escadas de dois em dois degraus.
No Inverno, pois no Verão cada degrau tinha outro sabor.
Não porque era melhor mas, porque era(m) mais denso.
A porta do prédio estava sempre entreaberta.
Quer dizer, no Outono nem porta tinha.
E saia.
Saia pela rua abaixo com um desalmamento tal que parecia mudo.
Não de fala.
A rua era íngreme, de calçada, de ferro de varandas, de vasos sem terra.
Lá ao fundo um pombal de madeira de eucalipto.
E pelas dezoito horas menos dez minutos ele parava.
De Primavera.
E escrevia um bilhete, pousava o lápis no alpendre da mercearia ao lado.
Pousava-o, não o guardava. Pois nunca escrevia tudo o que queria mas, apenas o que podia.
E o que podia era tão pouco, que estremecia.
Suava a alma aquele estremecer.
O espírito nem tanto.
Mas, a Alma... ai a alma o quanto suava.
E já pingava nas letras daquele manuscrito que ele cuidadosamente enrolava.
E tirou o único atacador que tinha.
Pegou no pequeno papel e no pombo de nome Medo, atou no tornozelo do 'Medo' o manuscrito.
Atou.
Não se soltou.
Tinha Asas.
Mas, tinha medo.
E ficou apenas.
Assim.
Apenas.

segunda-feira, janeiro 08, 2007

Passada


Perante qualquer realidade impõe-se as vivências
de um qualquer Passado.
E fico eu passada
de não se impor os sentires deste Presente.

sábado, janeiro 06, 2007

Diafragma


Que todo este desacompanhamento é sufocante já eu sabia
Que todo este sufoco é acompanhante também já eu sabia
Agora, que é desprotegido
Isso sim é novidade
Não no sentido geral do termo
Nem tão pouco do particular
É assim como que desamparo
Não é abandono
É desamparo
Mas, não é fobia
Mas, embacia
O auxílio
Aqui no diafragma
Que repulsa esta.
Esta estranha pessoa
Esta!

quarta-feira, janeiro 03, 2007

Carácter

Divulga-se por aí que certas expressões não passam disso mesmo
De expressões.
E divulgam isso, assim sem mais nem medos.
E há quem acredite.
Que certas expressões não passam disso mesmo
De expressões.
Não passam de isso mesmo?
As expressões divulgam.
Essas sim é que divulgam.
Agora o contrário?
É como o carácter.
Não o contrário.
Nem tão pouco as expressões.
Mas, ele divulga-se.
Ou.. se divulga!
Falando de expressões.
Eu cá divulgo que ando a suspeitar das minhas.
E cá de uma maneira!