sexta-feira, novembro 12, 2010

Rasga|TE

Não se finge o sangue.
Sangue. Sangue.
Não se finge a Alma. Que se olha.
Que persegue. Inala.
Não se vende nada disto.
Energias. São energias.
Oh Deuses.
Rasga. Mas rasga tudo.
Que não fique nada. Nenhuma gota.
Ping ping ping
Rouba-me o Tempo.
Como aquelas árvores sem toques.
Rasgai o chão.
Arrasta-me pelos cabelos canadas abaixo.
Voz. Fala da Voz.
Rouca. Rude. Tesa. Pura. Dura.
Inala-te. Me.
Queima. Me. Te.

Morre. Vá.
Morre brujeço.
Quero ter o prazer de ressuscitar-te.
Sangue. Sangue. Sangue.
Passei-te a ferro. Lava-te.
É tempo de morreres.

terça-feira, outubro 26, 2010

[Este]ndal

Quando existe o medo.
Aquele medo que dói.
Quando existe a dor.
Aquela dor que entranha.
Quando existe o ar.
Aquele ar que queima.
Quando existe tudo isto.
E mesmo assim morre-se.
E vive-se.
Tudo. Ao mesmo tempo. No mesmo segundo.
Quando a maré é cheia.
Mais cheia porque está Luar.
E vazia.
Mais vazia porque está suão.
E os poros dilatados.
Quando o cérebro parece mais que um.
E a Alma grita. Por corações de veias.
Quando acontece tudo isto.
Nos chamam de loucos.
Incongruentes. Tresloucados.
Insanamente lúcidos.
É humidade. Ilhéus estes que se instalam.
E movem cada passo.
Cada sentimento. Pensamento.
Acção.
E parece que não estamos adequados a séculos.
A casas. A ruas. A camas.
Transversais da vida.
E que vida esta que nos imana.
Assim.
Parece cachaça.
Cheias de limas a boiarem pela traqueia acima. Abaixo.
Nos lados.
Como limos. Algas. De Oceanos revoltados.
Cheios. De Sal.
E é Sal grosso.
A escorrer pelo cabelo abaixo.
Chega a estremecer a sobrancelha.
As pestanas ganham vida.
Sem contraponto.
Guião. Palavras previamente ensaiadas.
Isso. Isso era dantes.
Antes das caravelas. E do Afonso. E do Gama.
Antes dos patrimónios que se diziam nossos.
Agora? Agora é isto.
Isto que se diz meu. Que é meu.
Que é todo meu. Que sem ter nada hoje.
Esquece o ontem. Sem ter medo de amanhã.
Porque as bússolas são assim.
Como o sangue.
A escorrer pela calçada abaixo.
Forte. Grosso. Incrivelmente louco.
Este meu sangue.
Porque é meu. Porque não tenho mais nada.
Porque sente tudo. Sem ponteiros.
Preconceitos. Moradas certas.
Correios fartos.
Sem nortes. Sul. Oeste. Ahhh o Oeste.
Bate o este. Bate bate coração bate.
Como a música do Paião.
Criança.
Sangue de criança.
Olho. Observo. Mudo.
Mudo. Mudo. Mudo.
Anéis que estavam no dedo.
Passaram para a garganta.
Fios de prata. Junto ao pescoço.
Agora? Agora são as paredes vazias.
Sem fotografias.
Naprons. Xailes. Mantas.
É tudo a nu.
De pelos eriçados.
Parece que a Alma ganha forma.
E os pulmões violetas.
De ombros descobertos.
Peito em forma de renda.
Quando se sente tudo isto.
Descalça-te.
Porque vives.
Insanamente. Tresloucadamente.
Respiras.
Um dia saí de casa.
Fazia-me chorar a penha do meio dia.
E o Pico da Vela.
E o sino. Ohhh o sino da igreja.
Aquele ting ting tong a soar pelo coração acima.
Ás vezes.
Ás vezes é assim. O amor.
Como a missa. Cheio de homilias.
Hóstias mal cozidas.
Ás vezes é assim. A vida.
De corridas. De fugidas.
Porque tantas vezes é assim.
Sozinhos. Que nos amamos.
Que temos tempo.
Para nos acendermos.
E fumarmo-nos até à beata.
Como vulcões.
E os peitos em forma de renda. Ganham picos.
E as unhas dantes roídas. Ganham força.
E rasgam. Rasgam. Rasgam pele acima.
Até chegar não sei onde.
Ting ting ting.
Tong.
TONG.
Quando existe o medo.
Aquele medo que dói.
Quando existe a dor.
Aquela dor que entranha.
Quando existe o ar.
Aquele ar que queima.
Quando existe tudo existe.
E mesmo assim morre-se.
E vive-se.
Tudo. Ao mesmo tempo. No mesmo segundo.
É porque o padre está no altar.
Toca o sino toca.
E a senhora na varanda.
E tu a olhar as estrelas.
E eu aqui. Só aqui.
Insanamente aqui.
Onde o mar acaba. E a lua nasce.
Lavei a roupa.
E os lençóis dançam no estendal.

quarta-feira, agosto 11, 2010

Homens sem tomates


Às vezes existem viúvas-alegres, desmazeladas de ancas caídas e sobrolhos insípidos.
Às vezes há casais enfadonhos, risos contidos de mãos soltas.
Às vezes de pijamas caídos, mamilos esquecidos.
Destinos escolhidos.
Pior ainda. Do medo de estarem sozinhos.
Às vezes.
Tantas vezes é assim.
Fazem-se funerais sem corpos. Buracos sem terra. Jazigos sem portas.
E ainda o padre está no baptizado, e já se ouvem choros de velórios.
Vão-se embora com medo das lágrimas, dos soluços, do risco da retina.
Vão-se embora ainda com borbulhas por nascer. Barba por crescer. Patilhas por cortar.
Existem homens assim.
Que nascem do ventre da mãe, e que nunca chegam a ganhar os tomates do pai.
Às vezes existem mulheres católicas. Que se ajoelham por gente. Que nunca chegam a seres humanos.
Um dia destes vim de um funeral assim.
De um falso artesão da vida.
A cadeira era dura. O banco de madeira. E o meu desassossego de vento.
Fechei a porta da igreja. Correntes de ar da vida.
Porque de mortes fundamentalistas está a Barca de Gil Vicente cheia.

quarta-feira, agosto 04, 2010

Purgas


Quero que se fodam os apeadeiros.
E as demais consequências industriais.
Quero que se fodam as estações.
E tudo o que vier de bilhete na mão.
Quero que se foda o paralelo.
E o perpendicular.
E o amarelo e o vermelho.
Quero que se fodam muito bem fodidas as ripas de Pitágoras.
E os teoremas de Fermat.
Quero que se fodam os limites, as metas, os provérbios
e as delongas provincianas.
E as mágoas essas que ficam no fundo dos tachos
e ainda os fornos estão a quente.
Quero que se foda as circunstâncias do passado
e os afazeres do futuro.
E aquela gente normal, de risos normais, de vestimentas normais,
de pingas normais, de passos inacabados, de lágrimas doces.
Quero que se foda o doce.
Nunca vi prazer nenhum ser doce, porra!
A vida é salgada. É pimenta. É alecrim, rosmaninho piripiri.
Que se foda os supostos. Os iguais. As demandas.
Que se foda o tudo no nada.
Porque eu cá quero é o nado no tudo.
Foda-se!
Arre para a conservação do outro,
e da outra e do vizinho que não veio jantar.
Prezados seres estes que mandam foder o normal.
É mar. É oceano.
Atlântico. Índico.
Que se foda o Pacífico.
As Américas e as Europas paranormais.
Que se foda os saltos altos. O asfalto. Os andares de rés do chão.
Ah que merda esta que está no meu quintal.
Que se foda a poda que não foi feita.
A erva que cresceu. A terra que não se amanhou.
Acendo-me.
Sou ridícula.
Que se foda se me fodo.
Ao menos… fodi-me.
Porra.
Que se foda!
Foda-se.

terça-feira, agosto 03, 2010

oh homem...


As sensações que dizeis que não tomam a sério,
São aquelas que de mais sérias nós temos.
De silêncios entre vídeos de salivas não tragadas.
Andas a boiar. Andas.
Colocaste o passado do teu lado esquerdo
Assiduamente dizes bom dia.
Convence-te que são de boas noites que todos queremos
Às vezes o coração entra em decadência moral
De juízos de valores estandardizados
As sensações não se regem de faces pálidas
De peixes amórficos. De garrafas entulhadas numa qualquer varanda.
Os sentimentos, esses são como os gargalos.
De beiços em bico. Sedentos. De gargantas.
Chamas-me vadia. Não me importo.
Porque se vadia é engolir tudo até ao fim, e lamber os lábios até ao puro filamento.

Então sim, sou vadia.
O meu copo está pousado na janela. Não pedi gelo.
Traz o lume. Ou se preferires, a ponta do cigarro.

quinta-feira, julho 29, 2010

xiuuuu



Não fosse a interrogação abraçar a exclamação,
e viria o pronome pessoal beijar
o que se diz verbo no presente no indicativo.
Pretéritos perfeitos, não existem.
E os imperfeitos ficam em bicos de pés... sentimentos.
Dizem-se. Assim. Calados.

terça-feira, julho 27, 2010

Primeiro Volume


Antigamente não se ouvia tanto, talvez seja uma maldade dos tempos modernos.
Esta parva mania da razão sussurrar ao coração um… “Já soube…”
É que se fosse ao contrário, se de repente o emissor fosse o receptor,

talvez não houvesse esta néscia e quixotesca teima de ouvirmos um…
Eu avisei-te…”
[…]
Há realmente muita merda que me irrita nestes tempos modernos,

mas o topo da pirâmide é sem dúvida isto de catalogarem as coisas do coração com últimos volumes, logo atrás da enciclopédia do raciocínio.
Fosse assim, não teria havido a caverna. E Platão não teria sombras.
As realidades não são horizontais. Nem verticais.

As verdades são o que são.
E valem por si só.
O que entendo eu disto? Nada.
Por isso é que não tenho enciclopédias.

domingo, julho 25, 2010

Fundi|do


Se o meu cérebro ficasse vazio por um segundo.
Oh que segundo esse que me falta.
Abusava deste desejo. Violentava-o contra uma parede.
Até ao último gemido.
Uma vez. E duas. E três. E seis e nove. E, as vezes que fossem necessárias.
Para me espreguiçar ao comprido sobre a satisfação. É prazer.
Sobre os desejos sei duas coisas.
Ou comem-se ou deixam-se arrefecer.
Prefiro a primeira.
É que sopa fria não é a mais apetecida.
Então se for de caldo verde.
É esgotar até ao fim.
Até rapar o prato. E fazer aquele rrr rrr rrr com a colher.
E no fim, aquele recostar de cadeira.
Confiança. Presença. Partilha.
Arde.
Arde a deambulação. Passeio sem calçada.
Chão sem soalho.
Arde. Arde. Arde.
Arre.
Que arde.
Porra. E a colher a rapar até ao fim.
E rapa. Rapa. Rapa.
E esta Lua que sabe bem.
Na pele. Como unhas a cravar aqui.
A espinha toda.
Do princípio ao fim.
A colher vai cega. Por aquele prato adentro.
Eu e a noite.
Desgraça. Que desgraça esta que me esmaga.
E me acende.
Nada. A colher vai cega.
Lá vai o desejo por ali acima como quem esgrima os sentidos.
Rapa o tacho, malandro. Rapa.
Estúpidos os sentidos.
Parvas as razões.
E se a imoralidade não morasse aqui.
Eu dizia-te o que era um caldo verde.
Arre.
Que arde.
Não sou postiça.
- O desejo! O desejo! O desejo!
Fundi-te.

quarta-feira, julho 21, 2010

Matança.



Dormi com ele.
Acordei comigo.
Fui carne, alma, veias.
Dei-lhe o meu sustento.
[Des]Oxigénio.
Dou-me a mim.
Agora. Sem medos.
Dormi com ele.
Acordei comigo.
Depois de uma grande foda.
Um cigarro.
Depois de uma grande matança.
Um cálice de vinho.
Depois disso. A cinza. O restolho.
A ceifa de restos.
Desconformes.
Mais um bafo.
Cavou. Escavou. Colheu.
Dormi contigo.
Acordei comigo.
Debruço-me nesta linguística.
Às vezes é um tal de reumatismo na Alma.
Outras filosofias de estrada.
Camas sem lençóis.
Corpos doces, quando se querem salgados.
Revoltos. De punhos. Dá-lhe.
Dá-lhe. Dá-lhe em cima da mesa. Porra.
Espasmos que nunca duram o suficiente.
Retina amachucada.
Lixo.
Desagregamentos. Lá onde os bichos se proíbem.
Dorme contigo.
Dorme contigo.
Que hoje acordei a enforcar-te.

sábado, julho 17, 2010

quarta-feira, julho 14, 2010

O Amor é importante, porra!

As gentes acordam.
Pensam que não vão morrer nunca.
E nem a dormir, sonham.
As pessoas acordam.
Limpam as ramelas.
Sentem que muito provavelmente vão morrer.
E quando estão distraídos, sonham.
Os seres humanos acordam.
Espreguiçam-se até estalar os ossos.
Sabem que se calhar até é hoje que morrem.
Esboçam um sorriso.
E amam.

terça-feira, julho 13, 2010

TPC

Às vezes esqueço-me que as pessoas lêem este estamine, e ainda bem que assim o é.
E às vezes esqueço-me que a maltinha é a modos que pudica, e que leva a mal certas coisas que por aqui se escreve.
Ora estava eu no outro dia a estacionar o belo do automóvel, senão quando uma senhora que eu não faço a puta de ideia quem seja, bate no vidro do referido veículo e diz: “Devias ter vergonha a escrever sobre aquilo que as mulheres fazem no privado num lugar que toda a gente lê.”
E eu feita ursa, com cara de labrega, sem entender um c…. da conversa, balbuciei um boa tarde.. então como vai a família.
E a senhora para ali a ralhar, e no meio de tanto ralhanço catecista, lá entendi que falava do texto ‘Mestria’. Que é como quem diz, da masturbação.
E isto foi no parque de estacionamento.
Também já aconteceu na fila do supermercado.
Mas, adiante.
Passado uns dias. Fui beber um cafezinho com um amigo (Filó se estás a ler isto, perdoa-lhe que o teu marido não sabe o que diz) e nem ‘boa tarde’, nem ‘como estás’ …
Foi logo isto:



Ao que eu respondi:



O que isto quer dizer?
Ide procurar foda-se.

Dantes na mercearia da esquina fala-se do vestido que a não sei das quantas levava à missa. Da amante do não sei dos quantos. Etc etc e tal.
Agora comenta-se a masturbação da Estranha.
Tá bem. Que seja. E eu ralada. Para as senhoras que não têm mais nada que fazer à puta da vida. Ide comer óstias a ver se eu me ralo.
Obrigado. Voltem sempre. E tragam um orgasmo.
Porra.

T.P.C. - para as codrilheiras da zona oeste:
Conjugar o verbo prazer no presente do indicativo.

segunda-feira, julho 05, 2010

Re: Reversíveis


Inúteis são as saudades. E nunca as faltas.
Inúteis são aquelas brechas de correntes de ar.
E nunca os corpos de puzzles. Asfixiados. Suados.
Como torradas envoltas em manteiga.
Sedentas de fogo. Queimados. Trançados pelo gozo.
Impaciente prazer.
Até à dor. Do nervo. Até ao fundo da dor.
Do vento. Do tempo. Das palavras destroçadas.
Distâncias abastardadas.
Esmoendo todos os tendões, sem precisar de um único toque.
Fluindo por ali acima. Até ao fundo.
Como um vírus que corrupta tudo o que se diz moral.
E eu que gosto tanto do anormal. Do pecado.
Malignidade exaustiva. Dura.
Nua. Completamente Crua.
É Arte contemporânea esta, que te digo. Esta que me sacia.
Que quero o fundo. De toda a dor.
De todo o sal de prazer extasiado pela Alma.
Que às vezes é do tamanho de dois dedos, e outras do tamanho do diâmetro da Terra.
Pulo esta convulsão. São lábios. Também os quero.
Há acasos assim.
Como que vontades. Molhadas.

sexta-feira, julho 02, 2010

Mestr|ia


A subtileza duma sensação é a modos como que uma ontologia.
Cientificamente falando, a subtileza da manipulação do organismo desafia as leis da gravidade da absorção das entranhas mais comedidas.
Falo de masturbação, pois então.
Estimula-se o desejo.
Desafia-se a vontade.
Manda-se o racional ir dar uma grande volta.
E fica ali o galileu a medir o transe do prazer.
A delicadeza dos gestos, do suor. O movimento dos ossos.
Do pescoço aos dedos dos pés.
Há coisas fantásticas. Não há?

quinta-feira, julho 01, 2010

i|limite


Então era assim.
Primeiro pegava em ti e sugava-te todo o sangue.
Depois esticava cada artéria tua até ao ilimite.
E depois. Mas só depois.
Asfixiava-te as membranas.
Como que um lembrete.
De.
Afinamento de peles.
A puxar para a Alma.
E no fim bebia um tinto e fumava um cigarro.
E tu espojado no soalho.
Sem fósforos.

domingo, junho 20, 2010

Fotogramas


De lés a lés aparecem aquelas expressões completamente desfasadas. De tudo.
De tudo o que estamos aclimatados.
Como aquelas tempestades tropicais que aparecem sei lá de onde, e levam tudo à frente. Não são ventos. Porque os ventos sabem bem o que é.
Não é errado. E também não é certo.
E é essa assentada que se diz idiota,
que transforma a linguagem insípida em algo avassalador.
Intimista, como fotogramas de contornos afectuosos.
Contornos. Esses de paragens obrigatórias.
Com todas as estações e apeadeiros a que temos direito.
E ás vezes, e tantas vezes, pararmos a meio da linha e num registo sensual emanciparmos os desejos por todas as linhas que antes paralelas se transformam agora oblíquas.
Orgãos perpendiculares, e o comboio a passar.
Clássica é a linguagem, verdadeira a retina. A minha. A tua. A nossa.
Como matrizes.
E num registo puramente incontornável faz-se a Arte.
A minha. A Tua. A Nossa. De paragens obrigatórias.
Que de tantas concepções psicofísicas tornam vastos os horizontes.
Não somos conhecidos. Nem desconhecidos. Porém… artistas.
Desfasados.
Nós.

quinta-feira, junho 10, 2010

Aguar|dentes



No tempo em que se jogava ao pião e ao ringue não existia defeitos na cocaína.
A heroína tinha a cor das utopias. Suspensas como a fixidez que se sente aquando o vómito do silicone das hesitações.
O quadro na parede tinha uma qualquer estrada, e toda aquela inalação de odores proibidos fazia com que a tela pairasse por entre a pele.
Depois vieram os poetas, e com eles as metáforas típicas de quem alimenta as vontades com lubrificantes iniquamente congelados.
E as aguardentes. Essas malditas tentações que nos abrem a retina até ao ínfimo desejo.
Os dedos tremem. E com eles fica a descoberto negociatas de antes e depois, desmazelamentos de intenções.
Cheira-me a café.
Colocaste o açúcar?

terça-feira, junho 08, 2010

Comé Fodes?


Hoje, não interessa as horas, porque isto foi coisa de minutos.
Alguém virou-se e disse:
Faz amor comigo.
Ao que eu respondi.
A minha geração já não diz isso.
Diz:
Comé fodes?
E eu que estava na digestão.
Não fodi.
..
E antes que eu me vire para o lado, e sinta que me foderam a puta da vidinha
com retóricas em vez de acções, digo-vos:
Fodo sim senhor, antes que a vida me foda a mim.

O pernas para o ar está de volta, com um pino em ângulo recto.
F.O.D.A.-S.E.

quarta-feira, maio 12, 2010

[É nos silêncios que se fazem os gritos] -- [Pequeno intervalo n(d)a ausência]




Pulei do alto de uma Serra, na tentativa de organizar a espinha.
Ficaram-me os ossos.
E este frenesim maldito, desprezado, amaldiçoado de agonias pegadas ao sangue.
Sem âmago. Pari-me.
De pernas abertas. Completamente esparramadas, não houve pudores, vergonhas.
Nem sequer apaguei a luz, ou fechei a porta.
Pari-me logo ali. Onde deu vontade, onde quis, onde me apeteceu.
Foi de real gana. Completamente aberta.
Quando dei por mim já cá estava deste lado. Do impróprio.
A guinchar alma por todo o lado.
As paredes de odores esquisitos. Urbanos. Demasiadamente arquitectónicas. Certinhas.
De bom gosto, dizem muitos. De mau gosto, digo eu. Que o desarrumado da alma é personalidade, já de sentimentos é corrupção.
Aperto o cinto. Dói-me os tornozelos.
Deve ser lama esta circunstância humana.
Este lodo. Escorrego. Maltrato-me.
Afinal nada foi ás claras. E eu que nunca arrumo a alma, esqueci-me de apagar a luz.
De maquilhar os sentimentos. De fechar as pernas.
E de parir-me.
Devia apenas ter-me prostituído.
E aprender contigo. A vender a alma ao Diabo.
Arrumo os ossos.
Esfrego as coxas. Amanho a aorta.
Cruzo as pernas.
E num pouco de argila, alguém escreveu: Puta que te pariu.

domingo, fevereiro 14, 2010

Nu[m]a Rua

Ás vezes mais que necessário, é imperativo mudar de ares.
De palavras. De roupagem.
Estarei por entre ruas e ruelas a fazer dos portugueses
os autores do meu próximo blog.
Amanhã nas bancas [isto se os Portugueses estiverem na Rua]

http://numarua.blogspot.com/

domingo, janeiro 24, 2010

Moribunda


Se eu pudesse um dia chorar todas as mágoas que eu sinto.
E habitar em mim, um qualquer universo ainda por descobrir.
Ai se eu pudesse num dia, mover a madrugada em ternura.
E aí espantar, qualquer vestígio de medos e melancolias.
E escutar baixinho, mas mesmo muito baixinho, o teu ressonar.
E aquele bater de dentes que tu dizes que existe,
entre o dormir e o adormecer.
Destacaria qualquer passo.
Qualquer olhar. Gesto. Semblante. Quadro.
Tela. Pincel. Sensualidade.
E arrancava tudo.
Sem hesitações. Dúvidas.
E o mais agradável de tudo isto.
Era eu sentir-me moribunda.
De mim mesma.
Ao sentir uma qualquer esmola tua.
Como se de um tesouro se tratasse.
Se eu pudesse um dia chorar, todas as indiferenças que sinto.
Criaria o Atlântico.
E detinha todas as palavras do dicionário lusófono, como minhas.
Mas, sou pobre. Inculta. E incapaz de suster em mim.
A ausência do teu espanto.

quinta-feira, janeiro 14, 2010

Agulhas


Um destes dias, quer dizer… para ser sincera … foi hoje.
Eram umas seis e qualquer coisa da tarde.
[Eu sei que as cidadãs envolvidas são leitoras aqui do estamine, caso fiquem ofendidas com tais palavras, só têm dois trabalhos: ficarem ofendidas e deixarem de ficar]… continuando..
Hoje ao entardecer e para desanuviar a porra do trabalho, peguei num colar que estava perdido numa das gavetas da sala de professores, coloquei o dito colar a andei por ali de colar ao peito.
Nada de anormal. Não fosse eu menina que não usa colares, nem saltos de alto e afins.
Claro está, que as minhas ilustres colegas insistem na ideia, que um cérebro de uma mulher está na roupagem, adereços, perfumes e outras coisas tais. Pela sua ordem de ideias, aqui a ‘je’ é uma besta quadrada, com um cérebro de galinha. Pois sapatilhas, calças de ganga, mochilas e cabelo penteado com os dedos, nunca deram cérebro a ninguém.
Ora as ditas senhoras ficaram em êxtase, verem-me ali de colar foi altamente orgástico, finalmente eu era inteligente – usava um adereço dignamente feminino, a porra de um colar. Urra.
Ao fundo da sala ouvia-se: “Estranha pessoa esta, tu chegas lá… amanhã já vens de salto alto, e aí sim!”
Espectacular. Sensacional. Formidável. Estupendo.
Três anos naquela escola, a trabalhar que nem uma mula, e afinal de contas o meu reconhecimento profissional foi vinculado por um colar.
[Agora que me ponho a pensar no colar, é do restaurante chinês que fica do outro lado da rua. Ao almoço, pela altura do Natal, ofereciam um colar. Amarelo, enorme, cheio de brilhantes. Os crepes são bons, o vinho da casa é manhoso, e o empregado de mesa não sabe fazer trocos. Tirando isso, até se passa lá um bom bocado.]
Passado uma meia hora do desfile e orgasmo cerebral em que estava o meu cérebro, resolvi ler em voz alta um poema de um dos alunos (concurso de poemas que está a decorrer )… numa das estrofes lia-se qualquer coisa como: “ E nós embebidos em prazer, pousamos as línguas e bebemos as salivas…”
Do fundo da sala, ouvi: “ai que nojo, prazer… salivas… “.
Espectacular. Muito bom. Soberbo. Uma mulher para ser mulher, tem de usar colares que parecem adereços da árvore de natal, utilizar sapatos de agulha que fodem os pés todos (e ainda por cima tenho uma unha encravada, para ser franca são duas), tomar banho em perfumes mete nojo da loja de conveniência da esquina, estar de meia em meia hora a pentear-se, lambuzar a cara toda com tintas que não lembram nem ao menino Jesus.

MAS, SALIVA? PRAZER? Ahhhhhhh isso não!
Isso lá é coisa de mulheres?
Amanhã tenho que ir ás compras. É que com tanta informação que recebi hoje acerca da minha condição feminina, não vá eu olhar para o espelho e ter alguma dúvida sobre a minha sexualidade.

(Era para acabar este textozinho com um ‘Puta que as pariu’, mas acho melhor não o fazer… pois, não é próprio de uma senhora…)

quinta-feira, janeiro 07, 2010

Cócegas

Viver todos os dias sem ti fatiga-me.
Mói-me. Enerva-me as entranhas.
Fico com os pulmões a modo que pequeninos.
Custa-me o oxigénio.
E este ar roto em cima dos meus ombros.
Quando passeares por aquelas ruas de gelos perdidos,

de cheiros doces e gestos salgados.
Lembra-te de mim. De cócegas na Alma.
Roubaste-me tudo. As artérias. Os gemidos. Os gestos. Meneios.
Acenos.
Expressões tresloucadas, aquelas que me roubaste.
E depois. Depois vem isto. Este espreguiçar de saudades.
De sufoco. De asfixia.
Proibiste-me.
E eu que não sou de leis.
Perdi-me.
Quando novamente num qualquer entusiasmo deres por mim.
Não digas nada. Prende-me.
Sem épocas. Tempos. Prazos.
Medos. Receios.
Sossega-me.

quarta-feira, janeiro 06, 2010

Mais com Menos

[Partilho convosco um e-mail que enviei ontem.
Caso obtenha alguma resposta, esta será divulgada aqui no Pernas eeheeh]

Exmo. Sr. Director Geral dos Hipermercados Modelo


Poderia iniciar esta carta com um pedido de desculpas em relação à ousadia de lhe escrever sobre o tema abaixo exposto.
É. Realmente poderia começar este meu texto por aí. Mas, sinto que não o deva fazer, porque isso revelaria que estaria a ser cínica e um pouco prepotente.
Passemos então ao que me leva a redigir estas linhas.
Hoje vi e ouvi um anúncio publicitário dos Hipermercados Modelo… entre outras frases, dizia qualquer coisa como (não cito, pois não me recordo exactamente das palavras)
“ Vá ao Modelo… (…) é matemático. Mais com menos dá sempre menos. Ir ao Modelo é matemático”.
E repetia esta frase duas ou três vezes.
Ora eu fiquei a modos que irritada, pois uma das minhas batalhas diárias é exactamente tentar que os meus ‘amores’ (discentes) sintam e percebam que efectivamente essa frase é um erro.
Vejamos, considere os seguintes exemplos: -5+10= 5 (dá mais) , 10-20= -10 (dá menos).
Na adição e subtracção sinais diferentes, diminui-se e dá-se o sinal do maior valor absoluto. Ou seja, tanto pode dar ‘mais’ como pode dar ‘menos’.
Na multiplicação e na divisão… aí sim, mais com menos dá efectivamente menos, mas no contexto do anúncio a aritmética é relacionada com a adição e subtracção, logo o anúncio induz a população a erro.
Eu sei que você tem mais que fazer, e que simplesmente este meu e-mail vai ser alvo da chamada ‘chacota’. Mas, diga lá que por vezes a ousadia não tem uma certa piada?
E tal como dizia um certo filósofo que não me recordo agora o nome… “(…)um pensamento sem crítica, não passa de mera subordinação.” …
E eu cá não gosto nada disso… de subordinações.
Espero que tenha um resto de uma boa semana, e que a crise económica não afecte o seu estabelecimento comercial… pois por vezes, ‘mais’ com ‘menos’ pode ser ‘mais’, e espero que seja esse o caso.

Atenciosamente,
Estranha pessoa esta