domingo, julho 25, 2010

Fundi|do


Se o meu cérebro ficasse vazio por um segundo.
Oh que segundo esse que me falta.
Abusava deste desejo. Violentava-o contra uma parede.
Até ao último gemido.
Uma vez. E duas. E três. E seis e nove. E, as vezes que fossem necessárias.
Para me espreguiçar ao comprido sobre a satisfação. É prazer.
Sobre os desejos sei duas coisas.
Ou comem-se ou deixam-se arrefecer.
Prefiro a primeira.
É que sopa fria não é a mais apetecida.
Então se for de caldo verde.
É esgotar até ao fim.
Até rapar o prato. E fazer aquele rrr rrr rrr com a colher.
E no fim, aquele recostar de cadeira.
Confiança. Presença. Partilha.
Arde.
Arde a deambulação. Passeio sem calçada.
Chão sem soalho.
Arde. Arde. Arde.
Arre.
Que arde.
Porra. E a colher a rapar até ao fim.
E rapa. Rapa. Rapa.
E esta Lua que sabe bem.
Na pele. Como unhas a cravar aqui.
A espinha toda.
Do princípio ao fim.
A colher vai cega. Por aquele prato adentro.
Eu e a noite.
Desgraça. Que desgraça esta que me esmaga.
E me acende.
Nada. A colher vai cega.
Lá vai o desejo por ali acima como quem esgrima os sentidos.
Rapa o tacho, malandro. Rapa.
Estúpidos os sentidos.
Parvas as razões.
E se a imoralidade não morasse aqui.
Eu dizia-te o que era um caldo verde.
Arre.
Que arde.
Não sou postiça.
- O desejo! O desejo! O desejo!
Fundi-te.

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