sexta-feira, janeiro 23, 2009

Forasteiro


A nossa memória é como um baú.
Deixamo-nos liquidar pelo conteúdo.
E esquecemo-nos que fomos nós a construir esse mesmo conteúdo.
Que fomos nós e edificar cada tábua,
cada prego,
cada ruga.
Ferro. Arma. Suor. Sangue. Range.
Tábua.
Baú.
Por vezes é preciso distanciarmo-nos,
para percebermos realmente o que Queremos.
O que Somos.
O que Merecemos.
E tu, meu querido.
Não me mereces.
A chave?
Dei-a, a um forasteiro.
Com o nome de Tempo. Da cor do Vento.

sexta-feira, janeiro 09, 2009

Falemos de sexo [Parte 3]

99% dos homens numa ou noutra ocasião já proferiram a seguinte frase:
“ Se eu fosse mulher, seria a maior puta de Portugal.”
Caros amigos, pois que sejam putas!
Mas, que o sejam no sentido amplo da palavra.
Que sejam ambição, sofreguidão (mas daquela verdadeiramente orgástica), desejo, paixão.
Mas, sejam!
A maior parte dos homens que dizem esta frase (e corrigem-me se eu estiver errada) têm um qualquer trauma ‘cultural’.
É ridícula a forma como o dizem, e ainda mais ridícula é, a expressão com que o dizem.
Deixemo-nos de merdas, no campo dos desejos, somos todos, mas completamente todos, aniquilados.
Não há nada mais saboroso na vida, do que o desejo.
E não digam que os homens têm mais desejo que as mulheres, pois isso é burlesco.
Todos temos desejos.
Todos queremos domar, e ser domados.
Todos temos vontade de trincar o lábio até à medula.
Todos apreciamos o apetitoso dançar dos preliminares.
Todos sentimos o denso suco a circular nas veias.
Todos sabemos o quão único é, o ínfimo cruzamento do arrepiar com o clímax.
E todos, mas todos, quando vemos determinada pessoa sentimos o tal desejo avassalador de ‘lhe saltar para cima’, seja onde for, e em que circunstância for.
Existem é certas pessoas que têm pudor de assumir que tal como todas as outras, sentem desejo.
E depois também existem outras tantas pessoas, que só sabem aquilo que lhes foi ensinado, ou seja, só sabem o que lhes dizem, e não sentem que o que fica por dizer, pode ser sentido das mais variadas maneias, entre elas, pela sedução.
Sobra o altruísmo, e frases como: “ Se eu fosse mulher, seria a maior puta de Portugal.”
E dizem que as mulheres são complicadas, cheias de metáforas, e retóricas enfadonhas.
E caem no erro, de confundir determinação com falta de respeito pelo próprio corpo.
Barrelas.
Caros amigos, nós mulheres não somos complicadas, somos sim determinadas.
Nós mulheres não somos metáforas, o nosso sangue também é vermelho e salta a cada encaixe.
Nós mulheres não somos retóricas enfadonhas, vocês é que são parvos o suficiente, para confundirem a determinação do desejo, como desrespeito por nós mesmas.
É que se nós quisermos, por uma noite, saltar-vos para cima, somos putas.
E vocês, se nos quiserem, por uma noite, saltar para cima, já são uns grandes garanhões.
Ganhem juízo.
E estabeleçam prioridades.
È que aqui só para nós, vocês homens, falam muito, ouvem pouco e agem ainda menos.
Façam um favor a vós mesmos, e façam como Adão.
Saboreiem cada maça como sendo a única, é que ás vezes é no caroço, que está o mais saboroso.
Chupem a fruta até ao fim, e sintam que mesmo assim, ali ainda não é bem o fim.
… Há sempre vida para lá do caroço ;)

sábado, janeiro 03, 2009

Humida[de]


Ás vezes falta-me as palavras.
Outras o silêncio.
Aquele absoluto silêncio em que ouvimos tudo.
As batidas do coração, o fungar do nariz, o fio de cabelo no rosto, os glóbulos a perfurarem cada veia do organismo.
O ferver da pele. O borbulhar da seiva.
Não é solidão, mas também não é acompanhamento.
É um qualquer cinzento ali no meio.
Como que um silêncio acompanhado.
Ou por outra, um acompanhamento silencioso.
É como o vento.
Não se vê, precisa do bater dos ramos, dos pingos na janela, do ranger da terra.
Não é uma coisa morna.
É fria e quente. Sem progressões.
Tudo ao mesmo tempo.
Como um corpo nu em dia de tempestade.
Em que sentimos a terra molhada por entre os dedos.
Fechamos os olhos, e absorvemos cada pingo de chuva na face.
Parecem lâminas nas bochechas.
E as palmas das mãos viradas para o céu.
Ombros descontraídos.
Abrimos os olhos, e toda aquela chuva concentra-se no peito.
E as batidas que eram alvoroçadas, tomam agora outro condimento.
Serenidade.
Aquela que procuramos quando viramos as tais palmas da mão para o céu.
E os pés cheio de terra. E os cabelos molhados pela vida.
Pela tempestade.
Por todo aquele ‘frio-quente’ verdadeiramente saboroso.
E não há mais nada.
Só nós. A terra e o céu.
Sem artificialismos.
Sem exageros. Nem especulações.
Não falo de procuras.
Falo antes, de encontros.
Daqueles em que ouvimos as batidas do coração, o fungar do nariz, o fio de cabelo no rosto.
E os glóbulos a perfurarem cada veia do nosso organismo.
….
E a Terra continua molhada.
Húmida.
Ensopada.
Ouviram?
Foi o sangue a ranger.
É silêncio.
...
...
Linha, entrelinhas, sensações dedicadas a um grande Ser Humano... Ti Besberto.