quinta-feira, fevereiro 28, 2008

Desejos


Os desejos são como as caixas de velocidades.
Depois de posta a primeira mudança, o carro pede sempre mais.
O ponto morto. Não é desejo.
O carro não anda ao ‘relantim’.
E a pele não se encrespa sozinha.
Podemos ter não sei quantos carros.
Percorrer milhares de estradas.
Mas, existe sempre aquele que se encaixa.
Como um qualquer sinal de luzes.
Médios. Máximos.
Encadeia.
Carros.
São como os desejos.
Podemos ter muitos.
Mas, há só um.
Apenas um.
Que com um simples toque.
Nos eriça a pele!
Esqueceste?
Andas a conduzir com velocidades automáticas.

segunda-feira, fevereiro 25, 2008

Agricultura




Existem sempre coisas mal resolvidas no passado.
Coisas essas que enquanto não forem resolvidas, inevitavelmente mais dia menos dia nos aparecem à porta.
Adiámos.
Fazemo-nos de fortes.
Ahhh o quê? Mas, isso já está mais que resolvido.
Dizemos nós de cabeça.
Já o coração, esse dita outra coisa.
Qualquer que seja a natureza da coisa por resolver.
Fica sempre aquela semente que foi mal regada.
Ou aquela árvore que deveria ser podada, e não foi.
Um pomar é pomar, porque tem que ser cuidado todos os dias.
Manhã após manhã.
Caso contrário seria, mato.
Um mato cerrado.
De tal modo cerrado, que nos impede de ver, de sentir, de farejar o que realmente importa.
E andamos por aí de mato em mato.
E esquecemos de regar, de pulverizar, de podar as nossas árvores.
De sentir cada ramo.
Cada tronco.
Pensar donde vem aquela raiz.
Porque foi ali colocada.
Donde ela apareceu e porquê.
Talvez seja o passo.
O passo maior para o nosso próprio auto conhecimento.
E sentirmos que afinal.
Ela foi ali posta por alguma razão, e que talvez a árvore não cresça enquanto não resolvermos essa tal… raiz.
Se ela está lá, então à que olhá-la de frente.
Sentir toda a sua textura.
Penetrar em cada veia.
E rendermo-nos ao inevitável… seja ele qual for.
Mas, que sentimos como nosso.
O meu avô era agricultor.
Ensinou-me a andar de bicicleta, de balouço e a vindimar.
E não há nada melhor do que sentir esse todo.
As uvas, nos pés descalços.
Desde o trincar da velha tesoura, à tina de madeira.
Se a raiz está lá, por alguma razão é.
Basta sentir onde a plantamos.
Como a plantamos.
Sentir o cheiro.
Farejar.
Conjecturar o sumo da colheita entre os dedos.
Somos todos agricultores.
Mais que não seja… das nossas ideias.
E é o que eu penso sobre isto.
Até amanhã.
Agora ide. Ide farejar a vossa… raiz.

sábado, fevereiro 23, 2008

Vestimentas



A vida só é vida com espantos.
Se eu quiser colocar um anel no pulso, coloco.
Se por outra, me apetecer pôr uma pulseira no dedo, ponho!
O colar pode ser nas pestanas.
As meias na cabeça.
As calças nos braços.
A camisola nas pernas.
A vida é vida.
Porque nos espantamos.
Porque evoluímos.
Porque somos responsáveis.
Mas, malucos.
Porque somos todos diferentes.
E sabemos viver com essas diferenças.
Porque aprendemos.
E todos os dias.
Todos os dias nos espantamos.
E abrimos os olhos.
E fazemos aquela cara de: ohhhhhh
Ahhhhhhh ohhhhhh
Espantos!
Como aquele relógio do tornozelo.
Que faz tic tac
Tic tac
A cada passo que damos.
A cada respiração.
Que não pára a cada espanto.
Mas, pode marcar-nos de um modo diferente.
Começando no Tac.
E acabando no tic.
Ohhhhhhh Ahhhhh ohhhhhhhh
Espanta-te.

quarta-feira, fevereiro 20, 2008

Antagonismos


O que é viver?
Perguntou-lhe ele ironicamente.
Real gana.
Respondeu ela sem o ‘mente’.
Hã?
Viver é real. De nobres sentidos.
Gana.
De âmago.
De interstícios descabidos.
O que é viver?
Perguntou-lhe ela sem o ‘irónico’.
É o que é.
Mentiu ele sem qualquer tipo de fome.


Ela: Os nossos desejos
Ele: Os nossos medos

terça-feira, fevereiro 19, 2008

C(S)em kilómetros.

7h30 da manhã.
Chuva. Trovoada. Névoa.
Força bruta da natureza.
Água por todo o lado.
Quilómetros de fila.
Trânsito.
Loures envolto em água.
No carro ao lado uma criança chorava.
A mãe nervosa tentava a acalmar.
No carro da frente uma senhora de idade avançada.
Encostou. Tiveram que a ir buscar.
Lá mais à frente não travaram.
Choque imediato.
O rio Jamor corria a uma velocidade atroz.
Não havia semáforos.
Trovoada.
E a criança chorava compulsivamente.
No meio disto tudo.
Um ou dois carros de uma escola de condução.
O Pedro Ribeiro da Comercial insistia em dar notícias do trânsito.
Pedras.
Pedregulhos no meio da marginal.
Parecia que o comboio podia a qualquer momento saltar para o asfalto.
O Tejo com cor baça.
Ondas desconcertadas.
E aquela criança sempre no carro da frente.
Pensei na senhora que ficou lá atrás.
Na RFM diziam para as pessoas não saírem de casa.
Culpavam a Maria Elisa do programa da noite anterior.
Vento. Ramos de árvore.
Duas mortes. Um desaparecido.
A natureza é mãe.
Mas, quando quer é tão madrasta.

segunda-feira, fevereiro 11, 2008

Entre poros e entranhas. A Alma.


Sabem aquela parte a seguir aos olhos,
Como quem vai para as bochechas.
As chamadas olheiras?
Eu chamo a ‘parte de alma’.
É como se a nossa alma se alojasse ali.
Podemos rir. Chorar. Ou sorrir.
Não interessa.
Ou por outra, interessa.
Mas, aquela parte.
Ah aquela parte diz tudo.
È como a identidade de uma árvore.
Cria raízes.
E ficam, ficam, ficam.
Sinto como se a minha alma estivesse solidificada ali.
Naquela parte.
Como se ganhasse uma forma palpável.
Dói me a alma.
Dói me tanto a alma.
É uma qualquer coisa que vem das entranhas.
As veias do pulso explodem. Detonam.
Os dedos dos pés encolhem.
Comprimem a lucidez.
Os ombros balbuciam.
Poros. È uma qualquer coisa dos poros.
Range. E range. E torna a ranger.
Chega a doer a ponta dos cabelos.
Aqueles ossinhos entre os dedos e a palma da mão ficam vermelhos.
Serro os dentes.
E range. Range.
É uma qualquer coisa que sai da ponta dos meus dedos.
Parece que salta as unhas.
E solidificasse ali.
Como plasticina.
Ganhando aquela forma. De olheiras.
Sabem aquela parte a seguir aos olhos,
Como quem vai para as bochechas?
A minha alma está lá.
Trancada.
Entre poros e entranhas.
Solidificada.

sexta-feira, fevereiro 08, 2008

Parir


Costumo escrever assim.
Sem pensar quem lê.
Quem sente.
Escrever.
Escrever.
A sentir.
Mim.
Não é um acto egoísta.
É apenas o meu modo.
De.
Ser.
Mas, hoje.
Hoje é directamente para vocês.
Uma pergunta.
Tenho uma questão para vós.
Todos criamos defesas.
Ao longo da vida todos criamos as nossas defesas.
Seja no trabalho.
Seja na familia.
Seja nas amizades.
Em conhecidos.
Em relacionamentos.
Tudo.
Em tudo criamos defesas.
Sabemos exactamento o ponto em que as criamos.
Em que decidimos que devemos seguir esse espermatezoide.
Fecundando o óvulo da razão, e surge.
E parimos assim as defesas.
Parimos assim aqueles muros, mais ou menos íngremes.
Mas, criamos.
E devemos a nós próprios o crescimento dessas mesmas defesas.
Se elas crescem mais ou menos robustas.
O problema é nosso.
A responsabilidade é unicamente nossa.
Se elas nos defedem.
E até que ponto nos defendem.
A minha questão é:
Até que ponto essas mesmas defesas não são nossas inimigas?
...
Esta merda anda na minha cabeça vai para dias.
Demasiados dias.
Muitos dias, aliás.
...
Muros.
Como degraus.
Mas, ao contrário.

quinta-feira, fevereiro 07, 2008

Descarnada

Alma inconsciente.
Actos insanos.
Dizem alguns de boca cheia.
Nem tudo gera implicação, digo eu.
Tudo o que realizamos com sentido, tem um quê qualquer de insano, de inconsciente.
Uma obra de arte, é arte... porque transpira a insano.
Porque esgota.
Esgota a consciência.
Alma cheia.
Sentidos descarnados.
Toda a obra de arte é selvagem.
Como aqueles olhares que se procuram.
E nunca se tocam.
A paixão é assim.
Como a realidade. Aquela.
Que se quer primitiva.
Bruta.

segunda-feira, fevereiro 04, 2008

Um dia destes...


- Tenho saudades tuas.
- Não, não tens saudades minhas.
- Tenho. Estou a dizer-te que tenho!
- Não. Tu tens saudades é de ti. De como tu eras comigo.
- E isso não é ter saudades tuas?
- Não. Isso é ter saudades nossas. Eu tenho saudades nossas.
Estou todos os dias comigo. Estou de quando em quando contigo.
Mas, nunca estou connosco. Tenho saudades nossas.
- De rir contigo.
- Sim.
- Tenho saudades tuas.
...
De gargalhar.
- Um dia destes atreve-te. Espanta-te. Surpreende-me. A dizer. Anda cá.
- E eu vou. E mesmo assim, irei ter saudades tuas.

sábado, fevereiro 02, 2008

Assumo: Sou uma puta!


O ser humano é uma puta.
Uma puta do Tempo.
O tempo é o xulo.
E nós putas inteligentes que somos.
Temos que tirar partido do Tempo.

E viver até cair de cu.
Seres humanos que se presem.
Ide.
Ide todos levar no cu.
Ide Viver s.f.f.