segunda-feira, fevereiro 25, 2008

Agricultura




Existem sempre coisas mal resolvidas no passado.
Coisas essas que enquanto não forem resolvidas, inevitavelmente mais dia menos dia nos aparecem à porta.
Adiámos.
Fazemo-nos de fortes.
Ahhh o quê? Mas, isso já está mais que resolvido.
Dizemos nós de cabeça.
Já o coração, esse dita outra coisa.
Qualquer que seja a natureza da coisa por resolver.
Fica sempre aquela semente que foi mal regada.
Ou aquela árvore que deveria ser podada, e não foi.
Um pomar é pomar, porque tem que ser cuidado todos os dias.
Manhã após manhã.
Caso contrário seria, mato.
Um mato cerrado.
De tal modo cerrado, que nos impede de ver, de sentir, de farejar o que realmente importa.
E andamos por aí de mato em mato.
E esquecemos de regar, de pulverizar, de podar as nossas árvores.
De sentir cada ramo.
Cada tronco.
Pensar donde vem aquela raiz.
Porque foi ali colocada.
Donde ela apareceu e porquê.
Talvez seja o passo.
O passo maior para o nosso próprio auto conhecimento.
E sentirmos que afinal.
Ela foi ali posta por alguma razão, e que talvez a árvore não cresça enquanto não resolvermos essa tal… raiz.
Se ela está lá, então à que olhá-la de frente.
Sentir toda a sua textura.
Penetrar em cada veia.
E rendermo-nos ao inevitável… seja ele qual for.
Mas, que sentimos como nosso.
O meu avô era agricultor.
Ensinou-me a andar de bicicleta, de balouço e a vindimar.
E não há nada melhor do que sentir esse todo.
As uvas, nos pés descalços.
Desde o trincar da velha tesoura, à tina de madeira.
Se a raiz está lá, por alguma razão é.
Basta sentir onde a plantamos.
Como a plantamos.
Sentir o cheiro.
Farejar.
Conjecturar o sumo da colheita entre os dedos.
Somos todos agricultores.
Mais que não seja… das nossas ideias.
E é o que eu penso sobre isto.
Até amanhã.
Agora ide. Ide farejar a vossa… raiz.

2 comentários:

Estranha pessoa esta disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
rui disse...

Olá Estranha pessoa

Pois é..., "Um pomar é um pomar, porque tem que ser cuidado todos os dias."

Grande abraço, menina Estranha

P.S. Encomendei-o no mês passado e hoje, recebi o teu livro!
O primeiro livro vendido na Madeira é meu, pertence-me!
Gostei da foto que está na capa atrás.