segunda-feira, junho 16, 2008

Texto rabiscado à pressa na casa do vizinho. Estou sem net.


Os toques são fabulosos.
E as expressões… essas, ai essas, não lhes ficam nada atrás.
Surpresa.
Reticências.
Espanto.
Um anda cá.
Mas, a expressão que eu adoro, é aquela… vocês sabem.
Quando dizemos que ‘não’.
E queremos é o ‘sim’.
È fabulosa.
O ser humano é realmente fabuloso.
Numa só face, mil expressões.
Um cento de manifestações.
Tudo.
Mas, tudo condensando num só toque.
Aquele toque.
E fingimos que não.
Como que se vivêssemos o amanhã do mesmo modo.
Como se o entardecer de hoje fosse igual ao de ontem.
É aquela impressão do momento.
Sensação de ramela.
Não lavamos hoje, lavamos amanhã.
Não pode ser.
O mar não é o mesmo.
E no céu, as nuvens já mudaram.
O vento sopra de outra maneira.
E que maneira esta de sentir as coisas estranhamente.
Como se aquele arrepio na espinha durasse para sempre.
É como ver um jogo de futebol.
Foi penálti.
E culpamos sempre o árbitro.
Nós.
Nós somos os jogadores.
O resfolegar é nosso.
Não basta o meio campo.
E a baliza não é o limite.
Porque para as expressões não existem limites.
Existem sim toques.
Toques de bola.
No ar.
No chão.
De pernas para o AR.
Viradinhos do Avesso. Toques.
Mas, toques.
Daqueles como os bifes, com uma leve pitada de rosmaninho.
A puxar para o picante.
Tocas?

terça-feira, junho 03, 2008

Lenço. Vermelho.

Rondava os anos 40.
Naquela altura ainda não havia semáforos, passadeiras, filas, buzinas.
Os poucos automóveis andavam ao sabor de uma qualquer brisa da capital.
Daquelas brisas raras, com sabor a Tejo.
As damas passeavam de sombrinha, os cavalheiros de bengala.
Os fatos eram pretos, e os colares de cristal.
Lá no fundo avistasse fumo.
É Outono. Cheira a castanhas.
Ele vinha de mansinho meio amarelo, como a folha da gazeta.
Ela corada, como a castanha embrulhada.
Subiram a Antero de Quental ainda meio ensonados.
Diziam eles, para se desculparem.
Na janela, a vizinha. De lenço vermelho.
Fumava uma cigarrilha. Cheirava a verniz.
Ela corada, pensava no que não foi.
Ele tímido, nunca chegou a mudar de passeio.
E a vizinha que largou o lenço, ainda hoje pensa nesse desdito.
De pensar o que se sente.
E de sentir o que não se diz.
.
Apeteceu-me!

segunda-feira, junho 02, 2008

Meia volta


Para cativarem-me tem que ser pelo sorriso.
As pessoas falam do olhar.
Mas, de que vale um olhar sem um sorriso.
Daqueles abertos, francos.
Que percorrem todas as veias.
Sem deixar nenhum órgão com sede.
Daqueles em que os joelhos tremem e pedem mais.
Mais.
E o sangue corre.
Dá meia volta. E torna a correr.
Daqueles que cabem lá o mundo todo.
E mais um bocadinho assim.
Um sorriso com um leve piscar de olho.
Um levantar de sobrancelha.
O queixo descaído.
Sorrisos.
Fico completamente atarantada com um bom sorriso.
Posso ter muralhas sem escadas.
Ás vezes sem nenhuma porta.
Mas, um bom sorriso.
Ai um sorriso, aniquila tudo.
Já são raros esses sorrisos.
Mas, é bom.
É bom quando ainda existem.
Fazem bem, e recomendam-se.