
Ás vezes falta-me as palavras.
Outras o silêncio.
Aquele absoluto silêncio em que ouvimos tudo.
As batidas do coração, o fungar do nariz, o fio de cabelo no rosto, os glóbulos a perfurarem cada veia do organismo.
O ferver da pele. O borbulhar da seiva.
Não é solidão, mas também não é acompanhamento.
É um qualquer cinzento ali no meio.
Como que um silêncio acompanhado.
Ou por outra, um acompanhamento silencioso.
É como o vento.
Não se vê, precisa do bater dos ramos, dos pingos na janela, do ranger da terra.
Não é uma coisa morna.
É fria e quente. Sem progressões.
Tudo ao mesmo tempo.
Como um corpo nu em dia de tempestade.
Em que sentimos a terra molhada por entre os dedos.
Fechamos os olhos, e absorvemos cada pingo de chuva na face.
Parecem lâminas nas bochechas.
E as palmas das mãos viradas para o céu.
Ombros descontraídos.
Abrimos os olhos, e toda aquela chuva concentra-se no peito.
E as batidas que eram alvoroçadas, tomam agora outro condimento.
Serenidade.
Aquela que procuramos quando viramos as tais palmas da mão para o céu.
E os pés cheio de terra. E os cabelos molhados pela vida.
Pela tempestade.
Por todo aquele ‘frio-quente’ verdadeiramente saboroso.
E não há mais nada.
Só nós. A terra e o céu.
Sem artificialismos.
Sem exageros. Nem especulações.
Não falo de procuras.
Falo antes, de encontros.
Daqueles em que ouvimos as batidas do coração, o fungar do nariz, o fio de cabelo no rosto.
E os glóbulos a perfurarem cada veia do nosso organismo.
….
E a Terra continua molhada.
Húmida.
Ensopada.
Ouviram?
Foi o sangue a ranger.
É silêncio.
...
...
Linha, entrelinhas, sensações dedicadas a um grande Ser Humano... Ti Besberto.