segunda-feira, julho 01, 2013

Disse

Aproxima-te.

Foi o que ele disse. Encostado ao armário de madeira. Pernas cruzadas, o corpo virado para leste. Dizia que era como as corujas. Sempre pousadas para Leste. Onde há iluminação. E sim, disse ele. E lá ao fundo da sala. No canto leste. Aquele canto, o mesmo que tantos silêncios já ouviu. Partilhados. Fundos.

Aproxima-te.
E ela na poltrona. Encostada ao manto vermelho. Ligas pretas, o corpo virado para Norte. Dizia que era como as serpentes. De nortadas. Ousadas. Onde há talvez a escuridão. E sim, disse ela. E lá do outro lado da sala. Do canto Norte. Aquele canto, o mesmo que tantos gemidos já ouviu. Partilhados. Fundos.

Eu disse, aproxima-te. Não ouviste?
Cruzou os braços. Acendeu um cigarro. Tirou os olhos do chão, olhou a poltrona. E ela de costas. No vermelho. Do pecado. O corpo apenas com aquelas ligas pretas.

Entre luz de Outono. Da janela do canto sul. Fim de tarde. De dourados.

Aproxima-te.
Disse ela. Descruzando as pernas. Aliviando a liga.
Tocava um piano. Lá fora. Tinha cauda. Sem músico. De pautas.

Tocou-lhe na face.
E não se aproximou. Disse ele.
Com ela.

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