
Um café como outro qualquer.
Durante anos eles frequentaram esse café.
Durante anos nunca deram um pelo outro.
Acenderam cigarros.
Beberam dos outros.
Quiseram o que não queriam.
E nunca deram um pelo outro.
Um dia deram.
Seduziram-se.
Enlaçaram-se.
Suaram.
Penetraram.
Não quiseram.
Recusaram o raro.
Saltaram o risco.
A loucura ficou inválida.
Serena.
Sem lábios.
A sedução ficou pelo olhar.
Quiseram sair.
Sair daquela loucura.
Do desejo.
Daquela ânsia que consumia os movimentos.
Deslocaram-se em sentidos opostos.
Movimentos contrários.
Pensaram eles que nunca iriam falar.
Como se o desejo fosse de falar.
E é o olhar.
Essa fome de rebeldia.
De rasgar uma qualquer coisa que nunca foi.
É loucura.
Completa loucura o querer.
Intenção insensata de recusar.
E nem sequer olham.
Porque é lá.
Lá na retina.
Que o desejo salta.
Sou atrevida o suficiente para olhar.
E tu?
Olhas?
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Um dia destes, atreve-te a tirar-me as algemas.
Se faz favor!
Seduz-me.
Quero ficar nervosa!