quarta-feira, agosto 11, 2010

Homens sem tomates


Às vezes existem viúvas-alegres, desmazeladas de ancas caídas e sobrolhos insípidos.
Às vezes há casais enfadonhos, risos contidos de mãos soltas.
Às vezes de pijamas caídos, mamilos esquecidos.
Destinos escolhidos.
Pior ainda. Do medo de estarem sozinhos.
Às vezes.
Tantas vezes é assim.
Fazem-se funerais sem corpos. Buracos sem terra. Jazigos sem portas.
E ainda o padre está no baptizado, e já se ouvem choros de velórios.
Vão-se embora com medo das lágrimas, dos soluços, do risco da retina.
Vão-se embora ainda com borbulhas por nascer. Barba por crescer. Patilhas por cortar.
Existem homens assim.
Que nascem do ventre da mãe, e que nunca chegam a ganhar os tomates do pai.
Às vezes existem mulheres católicas. Que se ajoelham por gente. Que nunca chegam a seres humanos.
Um dia destes vim de um funeral assim.
De um falso artesão da vida.
A cadeira era dura. O banco de madeira. E o meu desassossego de vento.
Fechei a porta da igreja. Correntes de ar da vida.
Porque de mortes fundamentalistas está a Barca de Gil Vicente cheia.

6 comentários:

Raquel Branco (Putty Cat) disse...

...

OLHAR VAGABUNDO disse...

fodasse...continuas a escrever coisas nonsense que adoro...

beijo vagabundo

Anónimo disse...

Gostei da banda sonora, "you know how i fell, it's a new dawn a new life for me...."

M. disse...

Brutal!

Mαğΐα disse...

Muito, muito bom :D

lampâda mervelha disse...

Sem chorar po aquilo que não merece.


Lembra-te.