terça-feira, junho 03, 2008

Lenço. Vermelho.

Rondava os anos 40.
Naquela altura ainda não havia semáforos, passadeiras, filas, buzinas.
Os poucos automóveis andavam ao sabor de uma qualquer brisa da capital.
Daquelas brisas raras, com sabor a Tejo.
As damas passeavam de sombrinha, os cavalheiros de bengala.
Os fatos eram pretos, e os colares de cristal.
Lá no fundo avistasse fumo.
É Outono. Cheira a castanhas.
Ele vinha de mansinho meio amarelo, como a folha da gazeta.
Ela corada, como a castanha embrulhada.
Subiram a Antero de Quental ainda meio ensonados.
Diziam eles, para se desculparem.
Na janela, a vizinha. De lenço vermelho.
Fumava uma cigarrilha. Cheirava a verniz.
Ela corada, pensava no que não foi.
Ele tímido, nunca chegou a mudar de passeio.
E a vizinha que largou o lenço, ainda hoje pensa nesse desdito.
De pensar o que se sente.
E de sentir o que não se diz.
.
Apeteceu-me!

7 comentários:

Anónimo disse...

O SINAL VERMELHO
A torrente tormentosa do trânsito a correr nas artérias estranguladas da cidade. Desenhando cotovelos agudos entre os quarteirões históricos da baixa.
Atravessar cada rua é uma aventura de desfecho imprevisível. Imprevisível é, ao fim e ao cabo, o resultado de qualquer travessia. Já o sabiam os antigos marinheiros. Do outro lado está sempre o desconhecido, ainda que ele seja tão visível quanto aqueles prédios do outro lado da rua, ou tão distantes quanto a mais longínqua ilha deserta do outro lado do mar. O mistério não está na distância; está na opacidade do desconhecido e na imaginação com que o povoamos. Com que procuramos lê-lo para lá das paredes e das janelas semi-cerradas; para lá das neblinas marítimas que nos ocultam continentes imensos, densos de monstros ou inóspitos de desertos. O mesmo sucede quando olhamos o céu por cima do trânsito. Azul ou nublado só é verdadeiramente permeável à distância e à lonjura do nosso olhar.
Para quem tente atravessar a rua, atravessar o mar, aventurar-se para lá do céu, é a mesma a dificuldade. Porque o difícil é sairmos de onde estamos; impossível libertarmo-nos do lastro pegajoso da nossa própria sombra. A não ser no escuro, onde irremediavelmente nos perdemos, sem farol que nos guie.
Neste vazio de direcções plausíveis, a única saída é rodopiarmos em torno de nós próprios, sem nunca no entanto nos alcançarmos verdadeiramente, sem nunca nos ausentarmos da matéria, sem nunca nos desprendermos das nossas pequenas convicções, porque é de matéria que somos, porque é de convicções que formamos os caminhos em que rodopiamos, animados da força centrípeta que nos dá coesão e impulso...

Nisto, um cláxon mais veemente sacode-me, e vejo que o sinal vermelho já mudou.
Jorge Casimiro

Rafeiro Perfumado disse...

,

lampâda mervelha disse...

De uma outra forma, a uma distância tão curta sem ser medido no tempo, o gesto do que se sente e não se diz persiste.

:) estive lá pelas tuas palavras.

Anónimo disse...

a nha pernas ca tá munte anrebitáda e acim munte descaráda...
atão quiste é fotogarfia pámostráre?
a nha maria quia dando um xelique e cáxa o retráto munte lindo e só quere vêre tude ó pormenóre... do nosso tempo quéra tude tapáde e co lence éra pá cabêça...
ai nha pernas as indéias que tu métes á nha maria cagóra diz ca vai cupiáre a modos de tár mais muderna queu já disse qué só cá dentre de cáza né?
vô tár a páu na vá ela amostráre á vezenhança a nuvidáde!
pa ti um raminhe dalecrim

Brain disse...

E...
Apeteceu-te MUITO BEM!
É apenas o que te digo.

Um BEIJO meu.

Anónimo disse...

ó nha pernas queu axo quesse cansemiro tá co beice descaíde co gaijo ca screve assim munte bém !
adonde é quele vái cupiáre ?
ai nha filha tu tráta bem o rapáz quele é leterádo.
dagente uma pétala de rósa .

Luis Eme disse...

ainda bem que te apeteceu...

foi bom viajar contigo...