sábado, janeiro 03, 2009

Humida[de]


Ás vezes falta-me as palavras.
Outras o silêncio.
Aquele absoluto silêncio em que ouvimos tudo.
As batidas do coração, o fungar do nariz, o fio de cabelo no rosto, os glóbulos a perfurarem cada veia do organismo.
O ferver da pele. O borbulhar da seiva.
Não é solidão, mas também não é acompanhamento.
É um qualquer cinzento ali no meio.
Como que um silêncio acompanhado.
Ou por outra, um acompanhamento silencioso.
É como o vento.
Não se vê, precisa do bater dos ramos, dos pingos na janela, do ranger da terra.
Não é uma coisa morna.
É fria e quente. Sem progressões.
Tudo ao mesmo tempo.
Como um corpo nu em dia de tempestade.
Em que sentimos a terra molhada por entre os dedos.
Fechamos os olhos, e absorvemos cada pingo de chuva na face.
Parecem lâminas nas bochechas.
E as palmas das mãos viradas para o céu.
Ombros descontraídos.
Abrimos os olhos, e toda aquela chuva concentra-se no peito.
E as batidas que eram alvoroçadas, tomam agora outro condimento.
Serenidade.
Aquela que procuramos quando viramos as tais palmas da mão para o céu.
E os pés cheio de terra. E os cabelos molhados pela vida.
Pela tempestade.
Por todo aquele ‘frio-quente’ verdadeiramente saboroso.
E não há mais nada.
Só nós. A terra e o céu.
Sem artificialismos.
Sem exageros. Nem especulações.
Não falo de procuras.
Falo antes, de encontros.
Daqueles em que ouvimos as batidas do coração, o fungar do nariz, o fio de cabelo no rosto.
E os glóbulos a perfurarem cada veia do nosso organismo.
….
E a Terra continua molhada.
Húmida.
Ensopada.
Ouviram?
Foi o sangue a ranger.
É silêncio.
...
...
Linha, entrelinhas, sensações dedicadas a um grande Ser Humano... Ti Besberto.

8 comentários:

as velas ardem ate ao fim disse...

vou lavar
o meu sangue.
trocar de genes
limpar a derme
descontaminar a alma.
para tentar viver
sem desabar,
prosseguir sem me repetir,
caminhar em frente
sem voltar atrás.
renascer.
esquecer de me lembrar.
partir
e só
levar de mim
o que escolher.

um abraço

Anónimo disse...

Estes últimos dias foram um turbilhão de angústias que me assltaram.
Ficará a recordação...
Para sempre...

E tu,
tu eras a menina dos olhos dele!

Mαğΐα disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Mαğΐα disse...

O cheio-vazio entornado!

(...)

Camolas disse...

Adoro a chuva e terra, amo as tempestades.
Belíssima atmosfera no texto, senti-me em casa

Anónimo disse...

lindo.

Carracinha Linda! disse...

Para a Estranha Pessoa venho desejar um ano estranho mas cheio de cor e alegria!!!! :D

Bom ano!

Bjs

Anónimo disse...

aconteceu alguma coisa ao ti besberto'
jc