sexta-feira, junho 19, 2009

Morfologias


Sou então obrigada a pensar morfologicamente sobre a oralidade.
Como se a caligrafia só por si
não tomasse a voz rouca dos meus dedos.
Os músculos das minhas exclamações.
As vírgulas do meu sangue.
O ponto final dos meus ossos.
Sou então obrigada a renunciar esse tipo de leis.
Se é que me permites, digo-me a mim sem demoras,
que de músculos,
vírgulas
e
pontos finais
está o mundo lotado.
Agora de exclamações…
Estou rouca.
Prefiro o sentir morfologicamente.
A puxar para a anatomia descritiva.
Sem coacções.
Nem delongas.
Farta de conjecturas. De saltos altos.
É que eu, ando descalça.

7 comentários:

OLHAR VAGABUNDO disse...

descalça...

beijo vagabundo

Camolas disse...

Tal como Leonor.

Canto Turdus Merula disse...

Passando por aqui, em olhar fugaz, não resisto em comentar:

Magnífica imagem e magnífico texto.
Imagem fascinante, bem conseguida e muito criativa, gosto bastante.
O texto cativante, cheio de interioridade e é admirável como exterioriza o sentir pessoal.

Mergulhar no texto é deslumbrante seguir a luminosidade que dele emana.

Gosto muito. Excelente.

Canto Turdus Merula

Luis Eme disse...

e andas muito bem.

Leonor também andava assim, e segundo o poeta Camões, não deixava de andar bela e segura...

Adelina Silva disse...

Eu prefiro o sentir. Ponto final.
Contudo, por vezes, o sentir faz com que as letras e a pontuação se atravessem no caminho... e aí não há pés, pernas, mãos, braços suficientes que para acompanharmos esse sentimento que puxa e nos empurra. E, então, usamos as exclamações e os pontos de interrogação... e mais do que descalças, acabamos por nos desnudar.

Abraço

ANTONIO SARAMAGO disse...

Descalça,vaia Maria á fonte!
É pena que muitas pessoas escrevam como falam.

lampâda mervelha disse...

É um "foda-se!" notável. Agrada-me.