quarta-feira, junho 03, 2009

Raivosa

O meu saborear não é estético.
Nem tão pouco harmonioso.
Melodioso.
Ás vezes consigo transbordar.
Em veemência.
Extrema violência.
Dizem que pensar não dói.
Que o que padece é o agir.
Ah não que não dói.
Dói a valer.
Vai do tornozelo à raiz do cabelo.
É como um bater de porta.
Mas, daquele bater de punho.
Pancadas secas.
Na madeira.
Estremece tudo.
Vibra o organismo.
Os pulmões.
O pescoço.
O maxilar.
Ás vezes o que eu queria mesmo era ser desdentada.
Perder o tal dente do juízo.
E morder todas as emoções.
Com ardência.
Intensidade.
Fogosidade.
Com raiva.
Como os cães cheios de saliva.
Impacientes pela prisão do quintal.
É.
Um dia destes atrevo-me a perder o dente do juízo.
E parto por aí a morder.
A agonia.

11 comentários:

Mαğΐα disse...

Apetece-me dizer que qualquer semelhança com o meu mastigar não é pura coincidência!

Fizeste-me lembrar aquelas pastilhas SuperGorila!
Ao inicio grandes.
Secas.
Dificies de roer.
A esvaírem-se em açucar, num adoçar de boca efémero.

As tais pastilhas que depois se mastigam com raiva até perderem o sabor, até ficarem amargas e destestáveis.
Aquelas pastilhas que quando doces são apenas isso.
Doces.
E quando mordidas e amargas insistimos em manter na boca porque dão para fazer balões.
Grandes.
Enormes.
Fáceis de fazer.
Fáceis de rebentar.
A enganarem-nos o estômago e o espírito.
Como um vício.
Como uma fome.
Que agonia...

Tens que te dedicar aos caramelos, daqueles que se mastigam, que adoçam a boca, que injectam quantidades industriais de açucar no sangue, mas que saciam e se engolem... ainda doces...

Anónimo disse...

Pensar vai doendo, muitas vezes suavemente.
Mas diz quando de facto estiveres a pensar.
Não quero ser mordido pela falta de tino, assim desenfreadamente, por uma aparente estranha pessoa.
Há sempre uma sombra projectada pela luz que colocando no que fazemos. Não é porventura o melhor lugar para deixarmos os nossos fantasmas.
Isto não o prenúncio de uma qualquer receita, se assim fosse, já tinha tratado da vida faminta dos meus.

Anónimo disse...

Se pensar não doesse as pessoas não andariam por aí desprovidas dessa ação tão em extinção...É por doer que a maioria passa batido,assoviando...

E se um cão fica impaciente pela prisão do quintal,é pq ele conhece e gosta do sabor da rua,senão nem se importaria com a coleirinha...


Pois atreva-se,e os perca todos!!


Beijo

bettips disse...

É...a tua estética tem poesia. E recolhe os dentes para nós, os que gostamos apesar de idade e tal, darmos um beijo ou afago.

Canto Turdus Merula disse...

Forte vontade de morder tão intensa e tão sem tino
Que de fome visceral traz desenfreadamente esta vontade de morder?
De alimento precisa?
É só vontade de morder?
Ou!...
Que fantasma a espicaçou?

Canto Turdus Merula

Canto Turdus Merula disse...

“…saborear não é estético
Nem tão pouco harmonioso.
Melodioso.”

Como de estético se tratasse
Que sendo, não o é para de novo poder sê-lo
Feita “em veemência.
Extrema violência.”
Se faz transcendência

Canto Turdus Merula

Canto Turdus Merula disse...

Sendo a imagem (anterior) absolutamente forte (como muita outras) se não for o poder estético que dela emana, então de que magia, que não o estético, ela detém e que nos faz prender o olhar e toca alma?...

São imagens sabiamente feitas, mesmo que não totalmente consciente, com grande a sensibilidade, com forte intuição do se quer fazer, um bom saber técnico também ajuda imenso. Mas certamente que não seguem uma qualquer fórmula, regra, receita milagrosa ou doutrina. São feitas pensadas com esta “aura de magia estética”, provam elas isso mesmo, respiram esteticamente como de um estético houvesse, mas é aqui que entra o olhar de quem olha, as imagens por si só não são estética, precisam do olhar de quem olha.

Muitas das imagens podem muito bem não seguir um traçado assente no harmonioso e no melodioso mas isso não significa que o estético deixou de existir, muito menos ainda, que o estético se reduz ao harmonioso e ao melodioso. Verdade também que uma imagem absolutamente cheia de harmonia e melodia só por isso possa a ser vista como estética, verdade?...

Canto Turdus Merula

Luis Eme disse...

avisa, quando começares a morder...

Francisquinho Snow disse...

Mostras-me na tua cara
Tudo o que pensas e o que sentes,
Como as fontes de água clara
Que me deixam ver as nascentes…

Nunca expresso o que sinto
No meu grande amor por ti,
Para não dizeres que minto
Ou até que endoideci.

Qual é a pessoa mais bela,
De formas esculturais?
A mais bela é sempre aquela
De quem nós gostamos mais…

Anónimo disse...

És de facto AGRIDOCE...e quanto!!!!

Vive! (assim)

Carracinha Linda! disse...

É claro que pensar dói! E como dói! Mas essa dor é sinal da consciência que temos acerca das decisões que tomamos e daquilo que sentimos. Se para morder e correr daqui para fora com a gonia é preciso perder o dente do juízo, então também quero ficar sem os 2 que me restam!

Boa semana!

Beijinhos