quarta-feira, abril 26, 2006

Tenho a palavra mais portuguesa de Portugal... SAUDADES!


Tenho saudades...
Saudades!
Saudades das cores, dos cheiros, do Tejo...
De sair de manhã, ir à padaria do bairro e já ter os papo-secos à minha espera.
Tenho até saudades da senhora já saber que gosto deles torradinhos!
Até tenho saudades de: "Menina não se diz papo-secos mas, sim carcaças.!
Tenho saudades disso!

Tenho saudades do Senhor Domingos.
Sabia tirar o meu café 'curto' como ninguém!
Tenho saudades de todos os dias me perguntar o porquê deste ou daquele meu olhar.
Até tenho saudades dele implicar com o meu 'ser maltrapilha'.
Tenho saudades disso!

Tenho saudades da Rua da Praça.
Dos pregões.
Da Dona Manuela que tinha os melhores legumes da Capital!
Tenho saudades da Loja de Doces da esquina.
Tenho saudades do Senhor António do quiosque.
Tenho saudades disso!

Tenho saudades do eléctrico 36.
De estar à chuva e reclamar a sua demora.
De me sentar cá atrás e sentir Alcântara e a subida até à Ajuda.
Tenho saudades das calçadas!
Dos ramos das árvores que batiam na minha mão.
Dos vasos nas varandas.
Tenho saudades disso!

Tenho saudades da minha janela.
Da vista sobre o Tejo.
Do Cristo Rei sempre de braços abertos.
Tenho saudades de me sentar na janela de madrugada, fumar um cigarro e sentir o silêncio de Lisboa... parecia que era só aquilo. Eu e o Tejo.
Tenho tantas saudades disso!

Tenho saudades de ser eu.
De não ser filha daquele e neta daquele outro.
Tenho saudades de mim.
Tenho saudades de ser só eu.
Tenho tantas saudades disso!

Tenho saudades de ter a chave na porta.
E um trazia o vinho, outro o peixe, outro as cartas...
Tenho saudades das tertúlias.
Tenho saudades de não ter cadeiras suficientes para eles se sentarem.
Tenho tantas saudades disso!

Tenho saudades do 'fernezim' dos exames.
Do stress de ser amanhã e, ter que estudar hoje.. porque ontem houve jantarada.
Tenho saudades de sorrir ao olhar para um longo cálculo e tudo aquilo fazer sentido.
Tenho saudades de saber lutar.
Tenho saudades disso!

Tenho saudades de estar sentada na 'Brasileira' e beber um café na companhia de Fernando Pessoa.
De estar só ali sentada ele e eu. Observando aquele corropio de gente a entrar e a sair do metro.
Uns com o sobrolho franzido, outros com os olhos ainda semi serrados..
Tenho saudades disso!

Tenho saudades da festa de santo antónio da Travessa.
Do cheiro a sardinhas assadas.
De se lembrarem que não gosto de sardinhas... e ter uma bifana à minha espera.
Tenho saudades de todos esses avôs e avós.
Tenho tantas... mas tantas saudades disso!

Tenho saudades de ir ao 2º andar pedir ervilhas.
Chegar ao último andar e ver que não tinha carne.
Tenho saudades de não ter sport tv, ouvir um grito das escadas do Senhor César para ir ver o Benfica.
Tenho saudades de discutir com ele por causa do seu Belenenses.
Até tenho saudades da esposa dele reclamar que queria ver a telenovela...
Tenho saudades disso!

Tenho saudades.
Saudades de me rir do tudo e do nada.
Saudades de assobiar na Rua Augusta e alguém dizer que "Não sabia que é feio uma senhora assobiar".
Tenho saudades de Santa Apolónia.
Da feira da ladra.
De vender quadros no Castelo de São Jorge.
De andar de patins nos Jerónimos.
Tenho tantas saudades disso!


... e agora na rádio oiço a voz do Tim:
"O acaso vai-me protegendo enquanto eu andar distraído.
Deveria ter sonhado mais.
Amado mais."

2 comentários:

Anónimo disse...

OLá,
Não me conheces nem eu te conheço, mas as saudades são iguais, as saudades dos cheiros de Lisboa, do movimento e do frenesim, da falta do Sr. Antonio da mercearia, do Sr. Alexandre da pastelaria e das suas empadas ainda mornas, da Dna Maria da padaria onde mais do que comprar pão me actualizava das novidades do bairro, saudades de descer a Rua Augusta sabendo que no fim tinha o Tejo como pano de fundo, subir a rua do Carmo e Rua Garret e saber que no fim da subida podia descansar enquanto saboriava um café na Brasileira, subir o elevador de Sta Justa e lá do alto observar a imensidão e beleza de Lisboa, saudades do cheiro das castanhas assadas que o Sr. Manuel ano após ano teimava em vender na esquina da Rua do Ouro, saudades do meu bairro de Benfica, do mercado e dos vendedores ambulantes, aiiii Saudades, como eu te entendo e nas tuas palavras me revejo. Resta-nos a memória e a lembrança que manteem viva em nós a SAUDADE.
Um Beijo pelas memorias em mim despertadas.

Estranha pessoa esta disse...

João, muito obrigado pela tua partilha.
Espero poder ler mais algumas vezes os teus frenesins, as tuas memórias.... os teus sentidos!

Um beijo.
FF