domingo, novembro 18, 2007

Carta Aberta

São muitas as pessoas que pensam e sentem que a tarefa do professor é fácil, e até mesmo superficial. Existe quem pense que basta ter uns bons apontamentos, abrir a sala de aula e falar sobre os ditos apontamentos.

Ser professor é muito mais que isso, antes de tudo é ser-se pessoa, e tudo o que isso implica. É ser-se educador e educando, é ser-se veículo de conhecimentos, é ser-se por vezes pai e mãe, psicólogo e sociólogo....
Implica gerir o seu tempo, o tempo dos discentes, estar em coerência com as transformações da sociedade, com as motivações do aluno, implica ser-se disciplina e transmitir essa mesma disciplina de uma forma coerente e saudável.
Ser professor é muito mais que uma profissão.
A disciplina de matemática exige flexibilidade e criatividade, implica olhar directamente para a motivação dos alunos, e saber contorná-la quando esta está ausente.
Por vezes equipara-se o pensamento matemático ao vazio, e a conceitos teóricos que ‘não servem para nada’.... enfim... á abstracção do próprio nada. Esta visão tem necessariamente que mudar.
A ‘arte’ de ensinar matemática está directamente ligada a este pensamento, e execução desta arte é cada vez mais difícil por isso mesmo... pela ausência total de motivação dos discentes, e por vezes... dos próprios docentes, pois quem corre por gosto não cansa... mas, fica cada vez mais frágil á negação inerente dos alunos.

Um dia Emile Lemarne sussurrou que “Uma verdade matemática não é simples nem complicada por sim mesma. È uma verdade.”..... Verdade esta que mais que pensada e compreendida, tem que ser sentida, para melhor transmitir-mos essa mesma verdade. Como diria Einstein no seu livro– Como vejo o mundo “ O ensino deve ser de modo a fazer sentir aos alunos que a quilo que se lhes ensina é uma dádiva e não uma amarga obrigação.”
O meu sentimento e pensamento é esse mesmo, conseguir transmitir que a matemática é uma dádiva, e não uma amarga obrigação.
E antes de toda essa 'matemática'... sentir o que realmente interessa: que todos somos humanos, que todos devemos um terno e eterno respeito, ao que nos rodeia.

E neste espírito, que se baseia o amor que tenho pelo ensino, tentar fazer o meu melhor. Pois sei e sinto verdadeiramente, que nós podemos mudar o rumo à realidade contemporânea enquanto seres humanos que somos.
Basta acreditar na inovação, nos professores, nos alunos e no ensino enquanto veículo de crescimento pessoal, intelectual e humano.


Hoje colocaram em causa o amor e o respeito que tenho por todos os meus alunos.
Porque é isso mesmo, amor!
Hoje chorei.
E hoje decidi assumir aqui , o que eu sou.
E o que eu sou, é isto: Sou uma pessoa.

14 comentários:

rui disse...

Olá Filipa

Eu sei que és uma pessoa, uma pessoa muito querida e, de bem.
Sei que és uma pessoa com um coração enorme e, que te preocupas muito com o próximo, talvez demais, e isto, é respeito, é amor!
Por isso, é injusto que ponham em causa estes belos sentimentos que habitam em ti.
Hoje choraste, sim podes chorar, mas de pena, pelos ignorantes que te julgaram mal.
Não ligues ao que dizem os maldosos ou os idiotas, pois, todas as pessoas de bem, que te conhecem, sabem que és uma pessoa íntegra.
Nada vai mudar esta opinião.

Fica bem
Grande abraço

O senhor do mar

Ana disse...

Olá!

Passei por aqui por acaso... e não posso deixar de dizer que compreendo o que escreveste... Eu também sou professora... e sinto que muitas vezes... a maioria das vezes é uma profissao muito "engrata"... que a maioria das pessoas não dá o devido valor aquilo que fazemos... Tal como dizes... muitas vezes somos pais... confidentes... e muito mais...
Continua assim... não há nada mais importante do que fazermos aquilo de que gostamos...

Força e boas aulas!

Melga do Porto disse...

Várias vezes digo aos meus filhos, quando contestam os professores e seus “caminhos”:
A evolução das espécies aos professores se deve.
Nós pais somos a génese, porque ao mundo e à vida vos trouxemos.
Somos vossos professores nos primeiros e derradeiros momentos da vossa vida.
No entanto no premeio deste universo, tanto espaço fica.
Espaço fundamental para o vosso crescimento e desenvolvimento.
E a quem vos entregamos nós – aos vossos professores.
Por isso meus lindos, poucas bocas foleiras sobre eles.
Podeis até ter razão, mas não será que eles a têm em primeiro lugar.
Vamos a conversar...
:)
Eu confio em vós!

Anónimo disse...

Leio sempre os teus escritos, normalmente gosto até porque escreves bem, escreves com alma.
Gostava muitas vezes de os comentar mas por manifesta falta de tempo normalmente não o posso fazer.
Mas hoje não resisto à tentação e cá vai.
Esta tua carta aberta reflecte bem o grito que te vai nessa "alma inquieta" mas que denota um interior muito grande uma vocação sentida para a transmissão do conhecimento.
Esta tua carta aberta revela-nos uma outra autora, bem mais consentânea com o padrões tradicionais da transmissão do pensamento. Neste texto revelas sem palavras excessivas a mulher, a docente, a verdadeira intelectual que há em ti.
Hoje é Domingo e a critica que te fizeram não foi por certo no âmbito profissional, talvez alguém, quiçá de forma inconciente, te quiera ter atingido e te tivesse magoado naquilo que é em ti uma verdadeira vocação, ser Teacher.
Deitas-te cá para fora uma outra mulher, devo dizer de quem gosto ainda mais, que revela sentimentos de grande pureza que infelizmente são cada vez menos frequentes no ensino das nossas escolas.
Contudo tenta perceber porque te atingiram, reflecte cada palavra cada argumento, poderá ser que descubras a verdadeira razão da acção e segura dos teus bons principios, verificarás que não deves deixar de ser uma (boa)pessoa.
Estarei sempre alerta.
Até outro dia.
P.R.

Raquel Branco (Putty Cat) disse...

Pois é...os professores de matemática sempre me deram uns arrepios na espinha....

Provavelmente, porque nunca os vi como isso que falas. Como meras pessoas, muito menos como boas pessoas.

Muito provavelmente, nenhum deles, estaria para aí virado, ou seja, demonstrar que o ensino é uma paixão. Que é uma forma de amor pelo próximo. Que é uma forma de nos responsabilizarmos pelo futuro, não só nosso, como dos outros, a quem ensinamos.

Eu não sou professora. Nem tenho aptidão para tal.
Mas a realidade é que em toda a minha vida escolar até à faculdade, encontrei pouquíssimas "boas pessoas" a quem poderia chamar de professor ou professora.

Não passavam de meros "Doutores Académicos". E de Doutorzecos, está este Portugal cheio.

A ti, Estranha, um bem-haja.

Mr. X disse...

Queria apenas te dar os parabéns pelo blog. Continua :)

Anónimo disse...

Para deixar um Beijo GD.


Pessoa.


Espero-te bem.

Jo disse...

Senti cada palavrinha.
Eu também sou professora (assim, como descreves). Só não é através da matemática, mas isso acaba por ser um detalhe.
É preciso paixão, nos dias que correm, para não mudar de rumo.
Eu (para já) persisto.
Beijo especial.

lampâda mervelha disse...

Eu sou filho de uma professora, por isso sei o amor que depositou ao longo das mais de três décadas em todos os seus alunos. Ainda hoje, muitos já homens (como exemplo o pai de um amigo meu), continuam a cumprimentá-la sorrindo. :)

Mas nem por isso foi ela que me ensinou a ler e a escrever. Tudo por respeito a quem me deveria ensinar, a minha professora é que deveria ter esse papel. Nunca fui influenciado e hoje compreendo o total profissionalismo da sua parte.

Em quase todos os quadrantes, e assim como todos os dias, somos postos à prova. Há quem mereça a nossa consideração, respeito e devoção.

Mesmo quando duvidam das nossas capacidades e atributos, é imperativo que se continue a senda da vida. Porque fomos e seremos, os fortes.

E já agora estendo-me mais um pouco no comentário que já vai longo. Já que é matemática, aqui fica a minha saga da tabuada. A história é simples:

Certo dia...

- Marco, Segunda quero que saibas a tabuada do 7 toda!

Escusado será dizer que nem olhei para o livro (era daquelas do ratinho). Na Segunda de manhã...

- Marco, tabuada do 7!

Eu mudo e quedo...

- Para a próxima Segunda quero a do 7, 8 e 9, senão levas reguadas! Tens a semana inteira pra blá blá blá........

Eu.. nada de nada! Novamente Segunda...

- Marco blá blá blá...!

Três reguadas e a mesma coisa para a semana seguinte. Foi assim por mais duas semanas, até que na última Segunda subi ao "palco" frente ao quadro, perguntou-me pela tabuada já com régua em punho. Com desdém estendi-lhe as duas mãos...

- Vai-te sentar...

Balbuciou qualquer coisa que já nem me lembro. Nunca mais me importunou com isso. :)

Sandman of the Endless disse...

olá, querida,

sinta daí
um abraço apertado, forte
acolhedor...
um beijo querido,
amado...
sinta,
sinta aí, imensamente
vindo daqui
do fundo
do
coração
longe, além mar!, mas perto
sinta...

=***************

Branca disse...

Olá amiga :)

Nunca deixes que te façam isso!
Tu és uma pessoa,
uma pessoa com personalidade,
uma pesssoa que ama,
que vive ao sabor da alma...
Não ligues a quem é tão fútil ao ponto de não perceber a beleza e a exigência de que qualquer profissão exige de quem realmente ama o que faz...
Não existem profissões fáceis para quem realmente se importa com o que faz!
Até para varrer a rua é preciso saber como encantar as folhas, não?!

Acredita em ti sempre...
Fica bem!
Beijinhos :)

K.S... disse...

ehi adoro este teu mundo:)
bjinh..

rui disse...

Olá estranha Pessoa

De certeza que já deste um pontapé na crise..., não foi?

Deixo-te um grande abraço, com o cheirinho a terra molhada. Acabou de chover.

matilde disse...

Um abraço.
Ao quadrado.


Cada lágrima, um sentir.
Um amar. O que se faz.