sábado, julho 26, 2008

Invisual


Era uma cidade fria.
Estavam quarenta graus à sombra.
Mas, fria.
Princípios do século vinte, México.
Pó. Muito pó. As casas de latão.
No fim da rua uma bicicleta. Daquelas pasteleiras… de cesto.
Duas crianças.
Uma dos seus oito anos, a outra não tinha mais que três.
Dois e meio, três anos.
Brincavam com seixos.
Amarelos.
Sim, agora que puxo pela memória.
Eram seixos. E eram amarelos.
Apontavam para o cesto.
Sem cor.
Como o céu.
Não era cinzento. Não era azul.
Era sem cor.
Como o cesto.
A de três anos ria.
De uma gargalhada contagiante.
A de oito apontava, fazia medições e mais medições, falava do vento e como este influenciava a trajectória do seixo, justificava-se.
E não acertava.
A de três, gargalhava. Fechava os olhos, sorria e pimbas… no cesto.
E a outra continuava com medições.
Cara amuada, dentes serrados.
Estavam quarenta graus.
A de oito, na sombra.
A de três, no sol.
E gargalhava, e acertava.
..
Por vezes é necessário descontrair, desligar o motor do barco, e ir na maré.
Puxar pelos sentidos, sentir o calor do sol e, simplesmente ir pelos outros quatro sentidos.
Como um invisual. Fechar os olhos, mas nunca o coração… e encestar.
Esperamos demasiado para fazer o que sentimos.
Esperamos pelas oito horas quando o sol já está no horizonte… e esquecemo-nos que ás três o sol está mesmo ali, nos nossos noventa graus.

O cesto sem cor?
Coloquem vocês a cor que quiserem…
..
Amanhece!

2 comentários:

OLHAR VAGABUNDO disse...

yeap...continuas louca:)


beijo vagabundo

lampâda mervelha disse...

A forma como consegues transmitir..

..é bom.