quarta-feira, novembro 29, 2006

Queixo. Sardas e Afins.

[Fotografia de Rosalina Afonso]

Eugénio Rodrigues (Pierrot) dono de um jardim Outonal fabuloso,

sugeriu no seu estaminé o seguinte:

"Lembrei-me de vos propor que postassem vocês o texto que quisessem, título incluído, bastando que para isso vos deixasse esta foto para que vos servisse de mote. Tomem como referência a porta da-casa-de-ninguém, a cadeira que é de não-sei-quem, o cão que pelo asgar se deve chamar Faísca, etc e coisa e tal. O que quiserem... (.....)"

Aqui fica o que me passou pela cabeça ao olhar esta foto:

Ele não vivia de mordomias.
De banais engelhados.
Viva daquilo que tinha que viver.
Dizia por vezes ao contrário:
‘Viver que tinha que daquilo viva.’
E dizia isto com um sorriso maroto, olhar esguio.
Ao dizê-lo colocava as mãos no queixo.
E entre um resmungar e outro, lá murmurava que viver não é esperar aquilo que se pode vir a ter.
Mas sim, sentir o que se têm com um olhar vivo.
É isso o .. Viver que tinha que daquilo viva.
Apenas!
Sentir o que se têm com um olhar vivo.
Acabava de o dizer ainda com a mão no queixo… como que à espera de resposta.
Sentado naquela cadeira da varanda ensolarada do terceiro andar.
Não era esquerdo, nem direito.
Era apenas o terceiro andar.
Porque um olhar vivo é mesmo assim.
Nem direito. Nem esquerdo.
É, e pronto!
E basta!
A cadeira continua lá.
A varanda ensolarada também.
A chave?
Levou-a ele.
Diz que precisava dela para tirar a mão mais vezes do queixo.
Dizia ele que essa espera só o bania.
Levou a chave.
Deixou um pouco do olhar esguio.
Talvez para me fazer lembrar que:
Viver que tinha que daquilo viva.


A varanda?
Continua ensolarada.

Não é esquerdo.
Nem direito.
Era apenas o terceiro andar de um qualquer olhar esguio sem banais engelhados.



A parede salpicada?
São as sardas do queixo.
Aquelas que nos fazem levar a chave!


29 comentários:

Estranha pessoa esta disse...

E nas Escadas do Prédio, este graffiti:

Time Of Your Life

"Another turning point
a fork stuck in the road
Time grabs you by the wrist
directs you where to go
So make the best of this test
and don't ask why
It's not a question
but a lesson learned in time

It's something unpredictable
but in the end it's right
I hope you had the time of your life

So take the photographs
and still frames in your mind
Hang it on a shelf
of good health and good time
Tattoos of memories
and dead skin on trial
For what it's worth
it was worth all the while

It's something unpredictable
but in the end it's right
I hope you had the time of your life"

saudosista do futuro disse...

é o suspiro no suspiro.
com uma mão imaginária vais-me empurrando pelas costas, e eu gosto que me atirem para a frente. e tu sabes fazê-lo.

atiro a minha mão para as costas do fundo, e empurro-te como se fossemos feitos para saber coisas que ninguém sabe - que somos!

e amanha vamos rir na ressaca e lutar por mais um dia, e outro...

APC disse...

Xi, Senhora!
Tu andas-te a passar para o outro lado... O da excelência!
Ah, pois é!
Ainda me hás-de autografar muitos livros, estou em crer.
"E entre um resmungar e outro, lá murmurava que viver não é esperar aquilo que se pode vir a ter" - eu li, eu li! ;-)
E um olhar vivo é mesmo aquele que, soma dos olhar de cada olho tudo vê; e a alma viva é aquela que não tem palas nos olhos... E o senhor que ali mora é sabedor de uma vida que viveu sem muito a saber. Sem mordomias, vivia daquilo que tinha que viver... E mais um cãozinho lindo-lindo, e o sol que de vez enquando batia na varanda, e a sua forma muito própria de ser só.
Formidável!

APC disse...

* Gostaste do "enquando"? :-(
Bah... Vou dormir!

Unknown disse...

A varanda... à (minha) direita... foi forçada... tem um varão torto... para a esquerda (a minha).
O (teu) texto?
Estranho... misterioso... e... por isso... atraente!

Joker disse...

Olá estranha...
Também gostei do desafio que o Eugénio fez lá no espaço dele. Também fiz um texto para esta foto que deixo aqui a fazer companhia ao teu...

Diga-se de passagem que o teu está brilhante, muito ao teu género!
Gostei muito da parte das sardas do queixo...! Original!

Cheers


Era uma vez um cão que estava á porta de não sei de quem!

Também havia uma cadeira que já tinha sido bastante importante nos seus tempos aureos. Tinha sido a cadeira onde dias a fio se sentou a D. Maria, a avó da Francisca que se casou com o Anibal da Mercearia.
A cadeira estava rota, não servia para mais nada e tinha sido abandonada á porta de não sei quem.
O cão pertencia ao lote da cadeira, também tinha sido abandonado á mesma porta.
A mesma porta que ninguém sabe de quem é, nem o próprio morador da casa sabe que a porta escolhida, é a dele!

A razão é simples: Ainda ninguém tocou á campaínha. Nem o cão, nem a cadeira!!!!


Abraço de vicio para ti!

Joker disse...

Ah...
Voltei naquela de te dizer que...

vinte e dois disse...

Admiro mesmo a capacidade de pessoas como tu que a partir de uma simples imagem conseguem escrever textos bonitos como este! Parabéns! ;)

as velas ardem ate ao fim disse...

Ainda bem que te passam coisas tão bonitas pela cabeça.

bjinhos

Pierrot disse...

Mas eu, qual Faísca, não me vou embora.
Eu acredito que apesar de teres levado a chave, e de te poderes esquecer de mim, até porque aqui não há esquerdo nem direito, eu sou como o Faísca, um irreverente, um renitente, um teimoso que acredita no dia que há-de vir, que teima em sentir o seu prémio...
E cá me tens, sereno e deitado aos pés daquela que foi o teu trono, não à espera de umas quantas patas de galinha mas sim de uma festa, da tua companhia, das tuas histórias que eu, apesar de não entender bem e me parecerem um tanto ou quanto estranhas, admiro e adoro.

Podes não saber onde estou, até porque aqui não há esquerdo nem direito, mas eu cá te espero...

...serenamente.

E pronto, tu és assim...
Apesar do meu olhar estranho e esguio, eu sinto-me bem aqui.
E amei a tua homenagem em jeito de post.

Bjos daqui de um Pierrot estranhamente Faísca :-)

Eugénio

Pierrot disse...

Mas eu, qual Faísca, não me vou embora.
Eu acredito que apesar de teres levado a chave, e de te poderes esquecer de mim, até porque aqui não há esquerdo nem direito, eu sou como o Faísca, um irreverente, um renitente, um teimoso que acredita no dia que há-de vir, que teima em sentir o seu prémio...
E cá me tens, sereno e deitado aos pés daquela que foi o teu trono, não à espera de umas quantas patas de galinha mas sim de uma festa, da tua companhia, das tuas histórias que eu, apesar de não entender bem e me parecerem um tanto ou quanto estranhas, admiro e adoro.

Podes não saber onde estou, até porque aqui não há esquerdo nem direito, mas eu cá te espero...

...serenamente.

E pronto, tu és assim...
Apesar do meu olhar estranho e esguio, eu sinto-me bem aqui.
E amei a tua homenagem em jeito de post.

Bjos daqui de um Pierrot estranhamente Faísca :-)

Eugénio

Bela disse...

Fez-me sorrir...muito! :))
Excelente.
Bj e abraço

Isabel disse...

És uma estranha maravilhosa.
Ainda bem que existes e escreves assim.

Bem hajas estranha.

Isabel

rui disse...

Olá Estranha Pessoa

Claro que és maravilhosa a escrever!
Sempre disse que sabes brincar com as palavras como ninguém.
E, penso que, também tens outras qualidades.

Um abraço do senhor do mar

sem-comentarios disse...

Eu gosto mt de te ler :)

mais um excelente poema :)**

Giorgia disse...

fico aqui? vou pra dentro? deixo a cadeira, continua lá, vou pra dentro...

beijos enormes

Joker disse...

Vim retribuír um comentário transbordante de sentires profundos que deixaste lá no meu estaminé...

:P

"Hoje atrevo-me a dizer que:"

Isabel disse...

‘Viver que tinha que daquilo viva.’
Viver daquilo que tinha de viver.

Assim deveriamos viver todos.
Somos mais exigentes!

Queremos viver daquilo que não temos de viver.

Esperamos demais e não sentimos o que temos com olhar vivo.

Por isso por ai andam tantos olhares mortos, ou meio mortos.

Sabes o que mais ambiciono?
Morrer ainda com esse olhar vivo
De preferencia de esguelha.

Fantástico.
Criativo.
Original
E ainda por cima deixa nessa varanda ensolarada uma lição.

Aa varanda e em nós.

Fantástico.

Até já.

Isabel

vida de vidro disse...

Este é um atraente e misterioso texto de uma "estranha pessoa". A qualidade da tua escrita torna-a viciante. **

Isabel disse...

Respondi ao mesmo desafio. Queres ler a minha história?
É interesante ver como as mentes respondem de forma diferente ao mesmo estimulo.

Até breve.

Isabel

Carla disse...

sabe sempre bem passar por aki.

_____BOM__FIM DE__SEMANA!
_____LET__THE__SUN__SHINE
______IN___YOUR___SMILE___
____8888888888888888888888
_____88888888888888888888
_______8888888888888888
_________888888888888
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Anónimo disse...

olá,

como não tenho jeito nenhum para a escrita deixo aqui uma musica do Rui 'Beloso' que descreve o que senti quando vi a foto e o desafio:

Aí senhor das furnas
Que escuro vai dentro de nós
Rezar o terço ao fim da tarde
Só para espantar a solidão
Rogar a deus que nos guarde
Confiar-lhe o destino na mão

Que adianta saber as marés
Os frutos e as sementeiras
Tratar por tu os ofícios
Entender o suão e os animais
Falar o dialecto da terra
Conhecer-lhe o corpo pelos sinais

E do resto entender mal
Soletrar assinar em cruz
Não ver os vultos furtivos
Que nos tramam por trás da luz

Aí senhor das furnas
Que escuro vai dentro de nós
A gente morre logo ao nascer
Com olhos rasos de lezítia
De boca em boca
passar o saber
Com os provérbios que ficam na gíria

De que nos vale esta pureza
Sem ler fica-se pederneira
Agita-se a solidão cá no fundo
Fica-se sentado à soleira
A ouvir os ruídos do mundo
E a entendê-los à nossa maneira


Carregar a superstição
De ser pequeno ser ninguém
E nã quebrar a tradição
Que dos nossos avós já vem


A gente que não lê

bjs
Bruno Tavares

Tino disse...

O faísca tem ar de "morde ao dono" e parece-me que tem pulgas!!!! Se não me engano é um "passa fome" vagabundo...isto dava um filme mas eu hoje estou desinspirado por isso vou respirar outros ares!
Não que não esteja bem aqui...mas vou...
É que já estou com comichões...

Um beijo kiss dos grandes bigs

Pedro Gamboa disse...

Sublime, terno, sem duvida encantador o texto.
Escolheu bem a foto o Eugénio, permite navegar e por no papel a viagem. Também eu gostei de criar alguma coisa desta foto…

Beijinho.

APC disse...

Essa música do Veloso que o Bruno escolheu é uma das minhas preferidas... Triste, mas bem bonita. E tu, quando voltas? :-)

Estranha pessoa esta disse...

Ando com olhar de esguelha.. e com tudo o que isso implica!!!











:) **

APC disse...

"Ando com o olhar de esguelha, com tudo o que isso implica" ?????
[box anterior].
O estrabismo já tem cura!




:-)))

APC disse...

* Box anterior, nada. Esta mesmo!

Pink Luxurious disse...

Num disparo do acaso. Durante uma busca, que em nada estava relacionada com o que aqui tens. O meu sentir cruzou a tua estrada, e fiquei preso a uma teia, um fio condutor, que guia todas estas palavras uniformemente, numa brilhante hegemonia de textos.
Encontrei, esta tua página da vida, e gostei do que li... Uma troca de ideias interessante, a que propões com esta imagem. Mas não dará ela para tantas páginas? Suficientes para editar um livro? Os temas são tão diversos, que seria impossível usares um só. Pelo menos, eu recuso-me a retirar a autenticidade desta foto, com um texto inapropriado!
Apenas para vincular uma opinião, que está esta terra de brandos costumes tão cheia! Nunca esqueças de ser o ser...!*