
Dizem por aí que todos nós usamos máscaras.Umas mais acentuadas.
Outras menos.
Mas, dizem que todos as temos.
Permitem-me discordar.
Não vou dizer que ninguém as tem.
Isso seria ingenuidade e hipocresia.
Claro que existe quem as tenha.
O que as pessoas confundem... é o escondido com as máscaras.
As máscaras escondem algo.
Uma face. Um gesto. Um episódio. Uma realidade. Um bocejo.
O escondido é diferente.
Eu posso ter um qualquer pó escondido num qualquer canto da sala.
Está no canto. Mas, não atrás de algo.
Apenas está no canto.
E por estar no canto, está escondido.
Ou está escondido por estar no canto.
Por vezes dizem-nos:
- Mostra-te como és!
E esquecem que nós estamos a ser o que somos.
Apenas não estamos a revelar tudo em gestos ou palavras, porque estamos no canto.
E insistem que o revelar está nos gestos e palavras.
E esquecem que as pessoas podem dissimular esses mesmos gestos e palavras.
Agora nos olhos!
Nos olhos não.
Não!
E revela-se isso tudo nos olhos.
Não é num olhar.
Atenção, é nos olhos.
Porque essas tais máscaras que falam pode até ser um olhar.
Há quem consiga fazer isso. Usa-las até num olhar.
Eu cá não consigo.
Assumo, se pudesse era usar sempre óculos escuros.
Porque os olhos dizem tudo.
E por isso andam encolhidos.
Com medo de um qualquer olhar que os dispa num clicar.
Com medo de um qualquer bocejo que desprenda aquele lacrimejar há tanto por sair.
Simplesmente encolhidos.
Simplesmente encolhida porque .......
Eu respondia.. mas, estou ali no canto.
Revelo que menti ao escrever que se pudesse usaria sempre óculos escuros.
Já não quero!
Ando com os olhos desnudos.
Encolhidos é certo.
Mas, desnudos.
DESNUDOS.
Pudesse a palma da minha mão revelar essa nudez!