quarta-feira, abril 04, 2007

Qual é o vosso senhorio?



Ele não existia mas, mesmo assim insistiu em descer a avenida.
Era um avenida ‘fusca’,

daquelas avenidas que mesmo com todo o sol, tendem ao nevoeiro.
Mas, hoje essa tal avenida nem névoa tinha, apenas e só apenas o fulgor da lua cheia.
E que lua cheia.
Uma lua cheia de tudo.
Imaginem um sorriso largo, sincero, meigo…
Essa lua, nessa noite… era assim!
Mesmo assim.
Qualquer adjectivo seria pouco, qualquer sentir seria muito.
Por isso, e só por isso… sintam o que poderem dessa lua cheia.
Senão sentiram, não leiam mais.
Continuaram a leitura?
Ora ainda bem…
E ele lá subiu a avenida, com passos ora curtos, ora largos, ora atribulados.
E lá foi subindo.
Quando conto esta história, perguntam-me de imediato qual o solo da avenida…

...como se isso fizesse a diferença… e não é que faz?
Ahhhhhh se faz!
O chão era de terra.
Daquela terra que nem castanha é, de tão sentida.
Suponhamos que é acinzentada, mais a puxar para a cor de névoa.
Pois, mesmo não estando névoa, a avenida é desse timbre…
Prédios do final do século XIX, daqueles que têm aquelas janelas de sótão de varandas esqueléticas.
Essas janelas predominavam por toda aquela alameda, como se de uma verdade singular se tratasse.
Num desses sótãos vivia um ser plural, que de tão plural que era, fazia estremecer os restantes inquilinos…
Não pela sua presença mas, mais pela sua diferença.
E ele lá caminhava avenida acima,

e porque era sexta-feira ainda mais apressadamente subia.
Nesse dia da semana o chegar a casa tinha outro sabor… não porque alguém o esperasse mas, porque a lembrança de um esperar antigo, alentava o seu sangue adormecido.
E que sangue esse que tardava em acordar… em amanhecer!


Em limar a epiderme.


A EPIDERME!


No tal sótão de varandas esqueléticas vivia alguém que fazia com que tal lembrança ficasse menos presente, menos sentida, menos querida… menos desejada.
Talvez fosse por isso que ele corresse ainda mais.
E corria.
Um certo dia tropeçou.
A queda foi de tal ordem que a passadeira cravada na calçada se levantou, ficando sem qualquer tipo de paralelismo.
Até o semáforo ficou mudo.
Sem cor.
Lamentavelmente para o resto dos demais, ele levantou-se.
Sacudiu as calças, descalçou-se .. e num gesto fugaz disse:
Que a minha passadeira seja eu que a faça, que o semáforo esteja verde quando eu sentir que tenho que atravessar, que o sótão esteja carregado de lembranças que me façam sentir o caminhar com toda a minha verdade, que a varanda esquelética de vasos esquecidos sejam regados pelas minhas atitudes, e que este atar de sapato demonstre a força do meu sangue… a energia da minha atitude!
A névoa?
É necessária..
Incentiva a descoberta!
Ahhh e os restantes inquilinos?
Onde moram eles?
Não sei…….
Eu sei onde moro!
Eles de vez em quando refilam do meu desassossego…
E ameaçam em fazer queixa ao senhorio…
Como se o meu senhorio, fosse o mesmo que o deles….
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Qual é o vosso senhorio?





Notazeca de Rodapé:
A tal Alameda começou de terra.. e acabou em calçada!
Que coloquem vocês as pedras à medida certa.
A vossa medida!
E já agora como quem não quer a coisa… Qual é a cor do vosso semáforo?

6 comentários:

as velas ardem ate ao fim disse...

Tu não tens senhorio.

Eu não tenho e não quero.O meu semaforo é o verde.Eu sou verde.Um ser de outro planeta.

Voltei, ainda não estou bem, mas voltei. E manda me um mail para vermos isso de um jantar...

bjinhos e tu es especial

Luis Eme disse...

Também não tenho senhorio e na minha avenida não há semáforos...

Nem janelas de prédios do seculo XIX, nem sotãos cheios de mistérios e descobertas...

Lia disse...

a minha tem ahahaha

o meu semáforo é daqueles que ficam piscando no amarelo....cuidado olhe para os lados, imprevisível...risos

Carracinha Linda! disse...

O meu semáforo é daqueles que alterna entre o vemelho e o amarelo. Ando a ver se encontro o verde!!!

Bom fim-de-semana!!!!

Brain disse...

Pois...
Por acaso... moro numa avenida
Por acaso... nela não há semáforos
Por acaso... do principio dela vejo o fim
Por acaso... não tenho senhorio
Por acaso...
... Ou se calhar não!

Espectacular!

Beijo.

Avó do Miau disse...

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Uma Páscoa Muito Feliz, deseja a Daniela