domingo, março 30, 2008

Rodopios

Março.
Mês número três.
Dois mil e oito é ainda tão novo, e já levou em apenas três meses de vida, quatro pessoas que gosto muito.
Sim, gosto.
Não é por irem embora que passo de ‘gosto’, a ‘gostei’.
Gosto.
E continuo a gostar.
Já não me recordo se escrevi aqui. Acho que sim.
Mas, repito: Todas as pessoas que passam na nossa vida levam um pouco de nós, e nós ficamos com um bocadinho delas.
Todos os seres humanos que passam na nossa vida não passam por passar.
Há um propósito, e seja ele qual for… ele ‘É’. E mais cedo ou mais tarde, sentimos esse ‘É’, seja na cabeça, seja no coração. Mas, sentimos!
Quando temos uma tristeza procuramos no passado algo que nos reconforte, algo que nos anime, alguma ideia, uma ou outra solução, ás vezes até uma frase de alguém que um dia ouvimos… que serve de alerta, de farol.
Tive três pessoas muito importantes na minha vida, naquela fase em que estamos a moldar a nossa identidade, naquela fase em que já não somos crianças mas, ainda não somos adultos, naquela fase em que temos medo de tudo, mas somos verdadeiramente destemidos para enfrentar as coisas de frente...sem medir o perigo, naquela fase em que o dia de amanhã parecia muito longe, naquela fase em que as veias são criadas e o coração acelera a cada mudança radical.
Naquelas fase em que criamos a nossa estrutura, aquela que nos fixa para sempre à terra enquanto pessoas que somos.
Todos os dias recordo essas duas pessoas.
Sinto saudades, muitas.
Mas, não troco essas saudades, pelo desconhecido.
Não troco nunca essas saudades, pela ausência total desses seres humanos nos meus dias.
Todas as pessoas têm saudades.
É um facto histórico, emocional e dizem os entendidos que antes disso tudo é um facto social.
Não sei.
O que eu sei é que a saudade é a palavra mais portuguesa de Portugal.
E se há um sentimento ao acordar, esse sentimento é a saudade.
Já falei aqui do meu avô.
Já falei aqui do Carlos.
Hoje falo de uma outra pessoa…
Acolheu-me aos treze anos e aturou-me até aos dezasseis.
Aturou-me naquela chamada fase estúpida.
Aturou a minha estranheza, estranheza essa que alguns não suportavam.
Ainda sinto o cheiro das torradas.
O seu cabelo grisalho.
O cadeirão em frente da velha televisão.
O sorriso.
Era tão pequenina, que eu conseguia pegar-lhe ao colo e dar meia volta, com ela sempre a resmungar para lhe colocar no chão.
Um dia dei-lhe um abraço muito forte, e disse-lhe obrigado por ter sido minha mãe naqueles dias.. e foram tantos dias mas, ela já não se lembrava de mim.
Já no fim da doença ela fez aquele gesto que eu costumava fazer-lhe.. o rodopio.
Já não falava mas, aí eu senti que ela lembrou-se e choramos as duas num longo abraço.
Foi o ano passado, e as pereiras estavam em flor.
Hoje foi embora.
Tenho saudades.
Perguntaram-me:
“Porque estás nesse estado.. ??? Recompõem-te.”
Ao que respondi:
“Porque naquela idade parva não foi contigo que eu estive, foi com ela que a minha estranheza viveu.”
Hoje choro duas mortes.
Quem sabe, até três.
Amanhã é outro dia. E isto tudo faz parte da vida.
Mas, mais que me apetecer, precisava de desabafar.
Boa semana.
E que rodopiem muito. ‘Chamem’ por aquelas pessoas que gostam, ‘peguem’ nelas ao colo e digam simplesmente… “obrigado por fazeres parte do meu metro quadrado”.
E mesmo que elas não entendam hoje.
Certamente que amanhã irá surgir esse sentir.
Um beijo meu para vocês em cada uma das vossas bochechas.
Outro especial na testa, em jeito de rodopio.

10 comentários:

Anónimo disse...

Viver? Aspiração de louco! Pois se nascer é já morrer um pouco, morrer é dar um passo para a vida...
Fica bem.
pipidebico.wordpress

Zé Miguel Gomes disse...

Vamos todos para onde viemos...é uma questão de tempo... E enquanto a vida os levar, saibamos que somos nós que ficamos.

Fica bem,
Miguel

Anónimo disse...

É sempre triste quando perdemos alguem. Ainda me lembro do dia em k o meu avô morreu, infelizmente foi de repente, eu n soube de nada nesse dia e n tive tempo de me despedir. Ainda era um putinho e já perdi um pouco a memoria dele, anda algures perdida nesta imensidão, mas lembrome k era ao lado dele k eu gostava de estar e crescer! Um abraço grande deste teu amigo!

Fran Rebelatto disse...

E como não sentir saudade e como não escrever tanto sobre ela, sobre as pessoas que entram, que saem e que de uma forma ou outra fazem diferença na nossa vida...

Saudade arteira
saudade facera
saudade rimeira
saudade sem lei....
sem rima, sem prosa

Era isso, beijos, te cuida e tenha uma ótima e revoltada semana...com saudade...

Anónimo disse...

Obrigado por fazeres parte do meu metro quadrado!
Fico feliz por já dares tanta importancia a um abraço e nao achares k é um gesto futil...

OLHAR VAGABUNDO disse...

e que saudades tinha eu de te visitar ...:)
beijo vagabundo

Anónimo disse...

ouvi dizer que escreveu um livro?
Mais notícias por favor, que eu devoro leitura.
Fique bem.

lampâda mervelha disse...

N'outros lados do planeta festejam-na... é a partida para outra fase, um outro mundo.

R o d o p i a

entre as fogueiras

por toda a |n|oite em uivos

R o d o p i a

*

Brain disse...

Dear Strange One,

Apenas hoje tive oportunidade de ler a totalidade deste escrito.

Mas o sentido que faz um abraço,
É intemporal!

E por isso,
Eu te deixo hoje,
Aqui,
o MEU ABRAÇO!

E com ele,
Entrego-te também,
O meu silêncio,
Pois por vezes,
Um Abraço em silêncio,
É TUDO!

matilde disse...

...
Levo-o. Ao texto. 'Tá?
É que assim sinto-o ainda mais perto.
E quero-o mesmo perto.
Mesmo perto.
A rodopiar em mim.