sexta-feira, julho 07, 2006

Até já


Tinha olhos verdes.
Grandes.
Mas, não eram os olhos que eram importantes.
Era o olhar.
Vida.
Daqueles olhares que radiam qualquer coisa que nos faz sentir realmente bem.

Esse olhar vivia do outro lado da rua.
Quer dizer.
Não vivia, trabalhava...
Mas, era como se vivesse.

A rua era de calçada.
Daquelas calçadas tipicamente portuguesas.
Desalinhadas.
Desabitadas de si mesmas.

Nessa calçada todos os olhares se conheciam.
Eram sempre os mesmos sorrisos.
Sempre os mesmos passos.

Mas, certos passos mudam a nossa vida por completo.
Demoram por vezes poucos caminhos.
Poucas estradas.
Mas, as suas pegadas ficam para sempre.
Aqui.
Bem aqui.

Um dia esses passos sairam da calçada.
Foi um volto já.
Ainda alguém reclamou.
Mas, já não se ouviu.

E a calçada ficou mais fria.
E a porta fechou.
Passei lá à pouco...
A casa da frente ruíu.

O até já... É tão longo.
Pesam as saudades.
Pesam as recordações.
Pesa tudo aqui.
Bem aqui.

Tenho saudades tuas.
Muitas.
Até já.

2 comentários:

Anónimo disse...

Para mim, o peso das recordações leva-nos a sentir o peso das saudades! E esse peso é dificil de suportar. Esse peso tem dias que parece mais leve, mas continua lá, presente, vivo.

Se pararmos para pensar numa definição para a palavra saudade (excluindo a do dicionário, obviamente) a palavra tem um significado diferente para cada um! Significado não... Digo antes sentimento. Porque a saudade é subjectiva perante cada situação, cada ser!

Penso saber aquilo a que te referes neste texto. Penso ter uma pequena ideia (porque só tu sabes sentir a tua saudade) do "vazio" que sentes. A ausência da pessoa a cada dia que passa sente-se ainda com mais violência na nossa vida e sentimo-nos revoltados com a dor da saudade!

A cada dia que passa morremos um pouco mais de saudades. E se por vezes parece que a dor da saudade está amenizada, num estalar de dedos ele reaviva o nosso coração para nos mostrar que está lá cravada, cada vez mais forte! Teima em se mostrar quando menos esperamos (ou nao)e tem a proeza de nos deixar desarmados perante a sua crueldade.

Marca-nos por toda uma vida. Tem também os seus momentos nostálgicos, que apesar de dolorosos nos deixam com um sorriso no rosto, perante esta ou aquela memória.

Maior parte das vezes não nos é fácil lidar com a saudade! Mas se vamos ter de conviver com ela durante uma vida inteira, certamente teremos também de contornar a tristeza e a mágoa e retirar da melhor forma possivel a candura das boas recordações!

Peço desculpa se me alarguei...

AC

Estranha pessoa esta disse...

AC,

"(...)num estalar de dedos ele reaviva o nosso coração para nos mostrar que está lá cravada, cada vez mais forte! Teima em se mostrar quando menos esperamos (ou nao)e tem a proeza de nos deixar desarmados perante a sua crueldade."

É isso!
....